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https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/11961
PERFIL DE COMORBIDADE PSIQUIÁTRICA EM PACIENTES COM DIAGNÓSTICO DE INFECÇÃO PELO HIV, HTLV E DOENÇA DE CHAGAS ACOMPANHADOS EM UM AMBULATÓRIO DE PSIQUIATRIA
Guimarães, Patrícia Machado Quintaes | Date Issued:
2011
Comittee Member
Affilliation
Fundação Oswaldo Cruz. Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
Abstract in Portuguese
Doenças infecciosas crônicas podem causar ou agravar transtornos mentais em decorrência de efeitos diretos no sistema nervoso central, como resposta individual ao adoecimento, alteração da imunidade com surgimento de infecções oportunistas ou em função de efeitos colaterais do tratamento específico. O objetivo do presente estudo foi avaliar as características clínicas, sociodemográficas, o perfil de comorbidade psiquiátrica e de alterações cognitivas em pacientes ambulatoriais com diagnóstico de infecção pelo HIV, HTLV e doença de Chagas do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC) da Fundação Oswaldo Cruz. Trata-se de um estudo seccional com uma amostra consecutiva de 125 pacientes encaminhados ao ambulatório de psiquiatria no período de fevereiro a dezembro de 2010. A coleta de dados foi realizada por meio de fichas padronizadas incluindo informações sobre características sociodemográficas e clínicas e aplicação dos instrumentos Mini International Neuropsychiatric Interview- versão Plus (MINI-Plus 5.0) para diagnósticos psiquiátricos e Mini Exame do Estado Mental (MEEM) para rastreio de déficit cognitivo, ambos validados para a língua portuguesa do Brasil. Foi realizada uma análise descritiva com frequências simples e medidas de dispersão de variáveis sociodemográficas e clínicas, dos diagnósticos obtidos pelo MINI-Plus e alteração cognitiva detectada pelo MEEM segundo o ponto de corte proposto pela Sociedade Brasileira de Neurologia. A associação entre as variáveis categóricas sociodemográficas / clínicas e os transtornos mentais mais prevalentes e a alteração do MEEM, foi avaliada utilizando-se os testes qui-quadrado ou exato de Fisher e teste t de Student ou Mann-Whitney para variáveis contínuas
Foram estimadas as razões de chance (OR) com respectivos intervalos de confiança de 95% (IC 95%). Análise de regressão logística múltipla foi realizada para identificar os fatores associados aos diagnósticos psiquiátricos mais frequentes, risco de suicídio e à doença clínica de base. O método de seleção foi o stepwise (backward) com nível de significância de 5%. A distribuição por doença clínica foi a que se segue: 74 (59,2%) pacientes com HIV/Aids, 40 (32,0%) com doença de Chagas, nove (7,2%) com infecção pelo HTLV, e dois (1,6%) com co-infecção HIV/HTLV. A maioria dos pacientes entrevistados eram mulheres (64,0%), com até oito anos de escolaridade (56,0%), com renda familiar igual ou superior a dois salários mínimos (54,4%), que residiam em domicílio próprio (68,0%) e que não estavam trabalhando no momento da entrevista (81,6%). A mediana (intervalo interquartil) de idade dos homens foi de 48 anos (41,0-52,5) e das mulheres 49 (42,0-59,0) anos. A maioria dos pacientes (96,0%) estava em uso de psicofármacos no momento da entrevista, com mediana (intervalo interquartil) de tempo de uso de 46,0 (27,0-72,0) meses, sendo os mais utilizados os benzodiazepínicos: 98 (81,7%) e os antidepressivos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS): 84 (70,0%). Observou-se uma mediana de 3 (mínimo 1-máximo 7) diagnósticos por paciente
Os diagnósticos mais frequentes foram: Agorafobia: 65 (52,0%); transtorno de ansiedade generalizada: 29 (23,2%); Episódio Depressivo Maior (EDM): 56 (44,8%); risco de suicídio: 71 (56,8%); abuso/dependência de álcool: 26 (20,8%) e abuso/dependência de substâncias psicoativas: 17 (13,6%). Agorafobia estava diretamente associada ao paciente viver sozinho (OR=11,10). EDM não diferiu quanto às características clínicas, psiquiátricas e sociodemográficas. O diagnóstico de abuso/dependência de álcool e/ou substâncias psicoativas estava diretamente associado à renda familiar inferior a dois salários mínimos (OR=2,64, IC95%: 1,03-6,75), ao diagnóstico de HIV (OR=5,24, IC95%: 1,56-17,61), e ao tempo maior de tratamento psiquiátrico (OR=1,39, IC95%: 1,07-1,81). Risco de suicídio estava diretamente associado à cor não-branca (OR = 2,17, IC95%: 1,03-4,58), não estar trabalhando no momento da entrevista (OR = 2,72, IC95%: 1,01-7,34), e diagnóstico de EDM atual (OR = 3,34, IC95%: 1,54-7,44). Oitenta e oito (70,4%) pacientes apresentavam escores de MEEM indicativos de alteração da capacidade cognitiva que estavam diretamente associados ao sexo feminino (OR=2,97, IC95%: 1,34-6,57), não diferindo quanto às demais características clínicas, psiquiátricas e sociodemográficas nesta amostra. O perfil identificado é de pacientes potencialmente graves, preenchendo critérios diagnósticos para mais de um transtorno mental maior, com elevado risco de suicídio, em uso de diversos medicamentos psicotrópicos e em sua maioria sem suporte psicoterápico atual. Medidas para minimizar problemas relacionados às condições socioeconômicas desfavoráveis devem ser estimuladas considerando associação com dependência de álcool/outras drogas psicoativas e com risco de suicídio, que por sua vez podem comprometer a efetividade do tratamento clínico
Abstract
Chronic infectious diseases can cause or exacerbate mental disorders due to
direct effects on the central nervous system, as individual response to illness,
changes in immunity and onset of opportunistic infections or because of treatment
side effects. The aim of this study was to evaluate the clinical, sociodemographic
profile of psychiatric comorbidity and cognitive impairment in HIV-infected, HTLVinfected,
and Chagas disease patients from the Evandro Chagas Clinical Research
Institute (IPEC), Oswaldo Cruz Foundation. This is a cross-sectional study with a
consecutive sample of 125 patients referred to psychiatric outpatient clinic from
February to December 2010. Data collection was performed using standardized
forms including information on clinical and sociodemographic characteristics. Mini
International Neuropsychiatric Interview-Plus (MINI-Plus 5.0) and Mini Mental State
Examination (MMSE) were administered to assess psychiatric diagnoses and
cognitive impairment screening, respectively. Both instruments were validated for
Portuguese language. A descriptive analysis was performed with simple frequencies
and measures of dispersion of demographic and clinical variables, diagnoses
obtained by the MINI-Plus and cognitive impairment detected by MMSE according to
a cutoff point proposed by the Brazilian Society of Neurology. The association
between categorical variables and demographic / clinical and mental disorder and
changes in MMSE was assessed using the chi-square or Fisher exact test, and
Student t test or Mann-Whitney test for continuous variables. We estimated odds
ratios (OR) with confidence intervals of 95% (95%CI). Multiple logistic regression
analysis was performed to identify factors associated with more frequent psychiatric
diagnoses, suicide risk and clinical diagnosis. Stepwise (backward) method of
selection was used with a significance level of 5%. The distribution of clinical
diagnosis was the following: 74 (59.2%) HIV-infected, 40 (32.0%) with Chagas
disease, nine (7.2%) HTLV-infected, and two (1.6%) with HIV/HTLV co-infection.
Most patients interviewed were women (64.0%), up to eight years of schooling
(56%), with a familiar income of greater than two minimum wages (54.4%), living at a
own home (68.0%) and who were not working at the time of the interview (81.6%).
Median (interquartile range) age for men was 48 years (41.0 to 52.5) and 49 years
(42.0 to 59.0) for women. Most patients (96.0%) were taking psychotropic drugs at
the time of interview, with a median time (interquartile range) of use of 46.0 months
(27.0 to 72.0), most commonly used were benzodiazepines: 98 (81.7%) and
selective serotonin reuptake inhibitor: 84 (70.0%). Median diagnosis per patient was
3 (minimum 1; maximum 7). Most common diagnoses were: Agoraphobia: 65
(52.0%), generalized anxiety disorder: 29 (23.2%), Major Depressive Episode (MDE):
56 (44.8%), suicide risk: 71 (56.8%), alcohol abuse/dependence: 26 (20.8%) and
psychoactive substances abuse / dependence: 17 (13.6%). Agoraphobia was directly
associated with patient living alone (OR=11.10). MDE did not differ in clinical,
psychiatric and sociodemographic characteristics. Alcohol or psychoactive
substances abuse / dependence diagnosis was directly associated with family
income below two minimum wages (OR=2.64, 95%CI: 1.03-6.75), HIV diagnosis
(OR=5.24, 95%CI: 1.56 to 17.61), and longer period of psychiatric treatment
(OR=1.39, 95%CI: 1.07 to 1.81). Suicide risk was directly associated with non-white
color (OR=2.17, 95%CI: 1.03 to 4.58) and family income below two minimum wages
(OR=2.14, 95%CI: 1.01 to 4.55). Eighty-eight (70.4%) had MMSE scores indicative of
cognitive impairment and were directly associated with female gender (OR=2.97,
95%CI: 1.34 to 6.57). This study shows a profile of potentially serious patients,
fulfilling diagnostic criteria for more than a major mental disorder, with high suicide
risk, using various psychotropic medications and mostly without current psychological
support. Measurements to decrease problems related to adverse socioeconomic
conditions should be encouraged considering the association with alcohol / other
psychoactive drugs and suicide risk, which in turn may compromise the effectiveness
of medical treatment.
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