|
Kohan, Walter Omar, Leal, Bernardina & Ribeiro, Álvaro
(Orgs.) (2000). Filosofia na Escola Pública (2 ed. Vol. 5).
R.J., Brasil: Petrópolis.
Pp. 310
ISBN 85-326-2326-3
Resenhado por Isabela Cabral Félix de Sousa
Università "La Sapienza," Roma
27 de outubro de 2003
Resumo
O livro integra a coleção “Filosofia na Escola”, sendo dividido
em três seções. A primeira explica os fundamentos filosóficos,
históricos e metodológicos da proposta de filosofar em sala de
aula. A seguir, descreve as características centrais de um
projeto de Filosofia em escolas, implementado a partir de 1996.
Na segunda seção, são relatadas experiências de cinco escolas
participantes do projeto, em Brasília e no Distrito Federal,
construídas a partir das habilidades dos professores e
monitores participantes, bem como dos diversos recursos
didáticos empregados para uma clientela diversificada por
faixa etária (alunos de 6 a 15 anos), status sócio-econômico e
lugar de residência (urbana ou rural). A última seção contém
análises do campo da Filosofia e da Psicologia, relacionadas ao
contexto da prática filosófica. O conjunto das seções
proporciona uma descrição detalhada não só da amplitude do
projeto mas de suas possibilidades e limites. Observa-se que a
diversidade da formação dos autores do livro gera uma
pluralidade de visões sobre a Filosofia e sobre o projeto em
si.
Abstract
The book integrares the collection “Philosophy in Schools”
being divided into three sections. The first one explains its
philosophical, historical and methodological basis. Then, it
mentions the central features of a project of philosophy in
public schools that has been implemented since 1996. The second
section describes experiences of five schools where the project
was carried out at both the Brazilian capital and the Federal
District, constructed from the teachers’ and assistants’
skills as well as the didactic resources used with a student
population diversifed by age range (6 to 15 years old, social
economic status and place of residence (urban or rural). The
final section has in depth analysis of the fields of Philosophy
and Psychology in the context of applying Philosophy in
schools. These three sections provide a detailed description
of not only the scope of the project but also of its
possibilities and limits. It is important to note that the
diverse fields of the authors leads to pluralistic accounts of
Philosophy and the project itself.
O livro integra a coleção “Filosofia na Escola”, composta por
seis obras. Trata-se de estudo que merece ser conhecido por
todos os profissionais que se dedicam à formação de jovens
críticos, sendo de leitura extremamente rica por revelar
diversos entraves, percursos e conquistas vividos na
construção de um espaço filosófico no cotidiano da sala de
aula.
O livro é dividido em três partes, das quais a inicial contém
três capítulos escritos pelos organizadores do livro. O
primeiro enuncia os fundamentos filosóficos, históricos e
metodológicos da proposta de um projeto de filosofia nas
escolas. Neste capítulo, o autor contrasta criativamente
textos de filósofos, poetas e escritores, analisando temas
considerados relevantes para o ensino de Filosofia no ensino
básico: crítica, pergunta, experiência, diálogo, criação,
resistência, participação, sentido, insatisfação, sujeito,
infância, amizade, bem como a própria História da Filosofia.
O segundo e o terceiro capítulos apresentam as
características centrais do projeto, iniciado em 1996 na
capital do Brasil e no Distrito Federal, envolvendo
profissionais desta área e de outros países (Argentina, Espanha
e Estados Unidos). Os capítulos citados relatam as
particularidades da implementação do projeto, abordando não só
dificuldades relativas à realidade brasileira, da qual fazem
parte greves, condições precárias de trabalho, como também os
desdobramentos do projeto, evidenciados na sua continuidade,
nas pesquisas realizadas, na incorporação de novos
profissionais, nas novas escolas interessadas em participar, e
no congresso internacional sobre o tema sediado em Brasília, no
ano de 1999. Ressalte-se que a avaliação do projeto é
eminentemente acadêmica, elaborada por estudantes,
profissionais e professores universitários ligados à
Universidade de Brasília (UNB). Observa-se, no entanto, a
ausência de capítulos escritos pelos próprios professores de
ensino básico e médio, o que talvez tivesse oferecido uma
perspectiva mais rica.
A segunda parte do livro refere-se a diversas experiências do
projeto, em cinco escolas de Brasília e do Distrito Federal.
As mesmas estão associadas tanto às habilidades dos
professores e monitores participantes como aos diversos
recursos didáticos empregados para uma clientela diversificada
por faixa etária (alunos de 6 a 15 anos), status sócio-
econômico e lugar de residência (urbana ou rural). O capítulo
4 contém uma excelente explanação de como os objetivos do
projeto foram incorporados e adequados à realidade de uma
escola específica, na qual a equipe de professores envolvidos
construiu seu espaço filosófico através da seguinte sequência de
trabalhos em sala de aula: dinâmica inicial, apresentação e
problematização do texto, diálogo filosófico, avaliação dos
estudantes.
No capítulo 5, o texto discute o uso, em uma escola, das obras
do norte-americano Matthew Lipman, reconhecido como filósofo
especialmente preocupado com a presença da Filosofia e de sua
prática na vida das crianças. Nas experiências abordadas,
mostra-se como a participação ativa dos próprios professores da
escola gerou temas mais ligados à realidade brasileira do que
os sugeridas por Lipman.
No capítulo 6, evidencia-se um trabalho da equipe de
professores em aprender a identificar bons textos para abrir o
debate filosófico, assim como formas de questionamento deste e
algumas diferenças de engajamento dos alunos. Vale ressaltar,
neste mesmo capítulo, a reflexão sobre a frustração dos
professores quando o resultado da investigação filosófica não
coincide com os seus próprios valores.
No capítulo 7, são descritas as dificuldades de mudança de
paradigma para professores acostumados a dar a palavra final
quanto aos problemas trazidos para sala de aula, atitude
contrária ao questionamento filosófico proposto. Nesta escola,
concluiu-se que deve haver cautela para que o trabalho
filosófico não se transforme em instrução moral. Trata-se
de capítulo particularmente dedicado a mencionar alguns
desacertos, tais como: o não alcance dos objetivos, as
expectativas equivocadas de professores em relação à mudança de
comportamento dos alunos, e por fim, alguns desentendimentos
ocorridos nos primeiros contatos com os professores.
O capítulo 8 destaca a importância do planejamento de aula e
do trabalho atencioso dos professores, visto que o
questionamento do aluno depende do papel ativo dos mesmos.
Descobre-se, nesta experiência, que os resultados alcançados
pelo projeto na sala de aula de Filosofia vão além da mesma,
sendo também reportados em outras disciplinas.
Enfim, apesar da particularidade de cada escola enfocada,
encontram-se pontos de convergências nas experiências
descritas, tais como a insegurança e angústia dos professores
quanto aos conteúdos temáticos de História em Filosofia, a
gradual confiança de professores e alunos alunos quanto à
prática filosófica, e o crescimento do papel ativo de todos na
escolha de temas.
A parte final do livro envolve dois capítulos que debatem
especifidades das disciplinas de Filosofia e de Psicologia,
com boas análises sobre as mesmas no contexto do estudo. O
capítulo 9 enfatiza a relação do projeto com o contexto do
ensino de Filosofia nas escolas na área estudada, analisando
historicamente os momentos em que a disciplina de Filosofia
esteve presente e ausente no currículo oficial da educação
brasileira e discutindo o acesso elitista a esta disciplina, se
for considerado a parcela da população brasileira excluída do
ensino de segundo grau. O texto constata que, apesar destes
problemas, tem aumentado o número de profissionais envolvidos
com a Filosofia.
O útlimo capítulo faz uma cuidadosa reflexão quanto ao papel da
Psicologia no projeto Filosofia na Escola, apresentando
teóricos renomados do campo psicológico e uma análise destes
aportes para o projeto em si. Além disto, apresenta uma
investigação que lida com as representações dos professores
sobre as crianças, sobre a profissão de professor e sobre a
Filosofia em si.
O projeto Filosofia na Escola, tal como descrito no livro,
demonstra que estudantes, profissionais e professores de
diversas disciplinas podem filosofar e criar conjuntamente. A
diversidade dos capítulos termina por proporcionar uma visão
abrangente da prática filosófica e da complexidade do projeto.
Os organizadores, e autores do livro, Walter Omar Kohan, Álvaro
Sebastião Teixeira Ribeiro e Bernardina Leal, atuam como
professores do Departamento de Teoria e Fundamentos da
Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UNB). Além
destes, todos os outros autores têm ou tiveram algum tipo de
vínculo acadêmico com a UNB. Há desde professores de outros
institutos até estudantes, graduados e pós-graduados pela
Universidade com formações em História, Filosofia, Pedagogia,
Psicologia e Sociologia.
Isabela Cabral Félix de Sousa, Ph.D. em Educação Internacional
pela University of Southern California, atualmente trabalha
como Pesquisadora Visitante bolsista da CAPES no Departamento
de Demografia da Universidade “La Sapienza” em Roma
desenvolvendo projeto de pesquisa ligado aos temas de gênero,
educação, saúde e imigração. Suas publicações mais relevantes
são:
- Teaching the Ethnographic Vision as a way into policy?: A
Brazilian perspective on ethnography as a social control
practice, pp. 181-188. In: BAU Levinson, S Cade, A Padawer &
AP Elvir (Eds.) (2002). Ethnography and educational policy
across the Americas. Praeger;
- Health education policies and poor women in Brazil:
Identifying myths that undermine their empowerment, pp.193-
216. In: M Sutton & BAU Levinson (Eds.) (2001) Policy as
Practice: Toward a Comparative Sociocultural Analysis to
Educational Policy. Sociocultural studies of educational
policy formation and appropriation. Vol. 1. Albex:
Connecticut;
- Conquistas em saúde reprodutiva: Auto-estima, aprendizagem e
autonomia sexual. Cadernos de Saúde Coletiva 10(1):19-40;
- Sucesso e Fracasso numa experiência de Educação em Saúde.
Revista Educação e Ensino - USF 6 (1): 39-43;
- Women's voices of change after taking part of a health
educational program in Brazil. Education as Change 4(1):
63-84;
- Conceptual and practical approaches to HIV/AIDS: The
Brazilian experience. Current Issues in Comparative Education
3(1) Available:www.tc.columbia.edu [2000, December 1];
- Reviewing research trends on health education and health
promotion for children: The need to address more issues
related to social class, cultural background, policies and
research methods. Ciência e Cultura Journal of the Brazilian
Association for the Advancement of Science 52 (3): 154-160;
- A missing agenda in Brazilian schools: The debate on popular
health practices. Ciência e Cultura Journal of the Brazilian
Association for the Advancement of Science 50(5): 328-336;
- The educational background of women working for women at Rio
de Janeiro. Convergence, 31(3): 30-37;
- Discussing women's reproductive health, religion, roles and
rights: Achieving women's empowerment. Convergence, 28(3), 45-
51.
E-mail: isabela_felix@yahoo.it
~
ER home |
página principal
|
reviews (Eng.)
|
resenhas |
editores~
~contribui
| assina | editoras
| busca~
| |