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https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/3559
MORTES POR DIARRÉIA: UMA QUESTÄO DE DESIGUALDADE DE DIREITOS
Nunes, Maria Isabel Esteves | Date Issued:
1991
Author
Advisor
Comittee Member
Affilliation
Fundação Oswaldo Cruz. Instituto Fernandes Figueira. Departamento de Ensino. Programa de Pós-Graduação em Saúde da Criança. Rio de Janeiro, RJ, Brasil
Abstract in Portuguese
O presente trabalho teve como objetivo traçar o perfíl biológico e socio-economico, bem como a relaçäo com os serviços de saúde de uma amostra de 98 crianças que foram hospitalizadas e morreram de diarréia no período pós-neonatal na regiäo metropolitana do Rio de Janeiro de maio/86 a abril/87. Utilizaram-se os dados do projeto "Determinantes da Mortalidade Infantil na Regiäo Metropolitana do Rio de Janeiro" do departamento de Epidemiologia e Métodos Quantitativos em Saúde da Escola Nacional de Saúde Pública, obtidos dos registros hospitalares e entrevistas domiciliares. Analisaram-se características gerais das crianças, das mäes, características socio-econômicas, ambientais e da utilizaçäo dos serviços de saúde. Os resultados revelaram que: 61,2 por cento das crianças tinham idade entre 28 e 90 dias a internaçäo, 27,8 por cento nasceram com baixo peso ( menor que 2500 g), 51,6 por cento começaram a receber leite artificial aos 15 dias de vida, 55,1 por cento já haviam sofrido 1 ou mais episódios diarréicos e 22,7 por cento haviam sido internadas anteriormente. Eram desnutridas 45,9 por cento das crianças, foram hospitalizadas em estado grave 41,8 por cento e em estado muito grave 30,6 por cento delas. Em relaçäo as mäes, observou-se que: 24,2 por cento eram adolescentes, 23,5 por cento näo viviam com um companheiro e 46,3 por cento eram analfabetas. Na história obstétrica notou-se que o intervalo interpartal foi curto (igual ou inferior a 24 meses) para 60,9 por cento das mäes e 15,6 por cento delas já haviam perdido um ou mais filhos no período pós-neonatal. Quanto as condiçoes de saneamento básico observou-se que em 43,8 por cento das casa näo havia sequer um ponto de água ou existia apenas um; em 53,1 por cento dos domicílios, o destino do esgoto era para a rede pública e a limpeza pública atendia a 42,8 por cento deles. A renda per capita era inferior a 1 salário mínimo para 87,2 por cento das famílias; 66,3 por cento das mäes näo trabalhavam fora e 40,3 por cento dos pais o faziam na construçäo civil. Quanto a utilizaçäo dos serviços de saúde durante o pré-natal, observou-se que apenas 40,7 por cento das mäes iniciaram-no durante o 1o trimestre de gestaçäo e 45,2 por cento frequentaram 6 ou mais consultas. Em 57,1 por cento dos casos, as mäes procuraram um serviço de saúde no primeiro dia de doença da criança. Este serviço estava na mesma regiäo da moradia em 70,4 por cento dos casos, era um hospital público em 40,2 por cento, a conduta deste foi a internaçäo de 37,1 por cento das crianças e 59,2 por cento delas percorreram 3 ou mais serviços. A última internaçäo ocorreu em hospital conveniado com o INAMPS em 75,5 por cento dos casos. O óbito se deu em menos de 24 horas para 25,5 por cento das crianças. 76,5 por cento das mäes näo acompanharam seus filhos durante a hospitalizaçäo. Para 43,9 por cento das mäes, a morte da criança foi devida a mau atendimento. Finalizando, considera-se que, embora a reduçäo da mortalidade infantil por diarréia dependa de transformaçoes sociais profundas no sentido de diminuir as desigualdades e injustiças, a atuaçäo dos serviços de saúde materno-infantil através da sua reorganizaçäo em todos os níveis; priorizaçäo dos grupos de maior risco, além do emprego de medidas simples de baixo custo e boa aceitaçäo já disponíveis. É imperioso, entretanto, que haja vontade política de eleger a saúde materno-infantil como prioridade absoluta.
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