Informações e registros em saúde: uma proposta de instrumento de coleta de dados para as equipes de consultório na rua

Abstract

Esta pesquisa buscou desenvolver um instrumento de coleta de dados com funcionalidades de registro em saúde voltadas ao trabalho das equipes de Consultório na Rua (eCR). Os objetivos específicos contemplaram: I. analisar os instrumentos de coleta de dados normatizados pela Estratégia e-Sus AB, direcionados ao trabalho das eCR; II. listar as práticas de trabalho do Consultório na Rua a fim de criar campos de registros necessários ao trabalho de coleta de dados e monitoramento dessas equipes e III. sistematizar o instrumento de apoio para a coleta de dados voltado ao fortalecimento do trabalho das eCR. Tratou-se de uma pesquisa de cunho qualitativo que teve como campo de estudo o Consultório na Rua do Município de Niterói/RJ. Foi realizada a revisão da literatura e de normativas específicas; além de grupo focal com os profissionais pertencentes às eCR. Optou-se pela análise de conteúdo, considerando as seguintes categorias: Infraestrutura de trabalho das eCR; Práticas de trabalho das eCR e Fluxos e processos de informação das eCR. O grupo de pesquisa foi composto por 10 profissionais, sendo a maioria do sexo feminino, pretos ou pardos, acima dos 30 anos de idade e com algum nível de formação complementar na área da saúde; 90% dos profissionais referiram experiência prévia na atenção básica e a média de tempo de atuação no CnR foi de 3 anos e meio. Foi possível identificar condições insatisfatórias de infraestrutura, com espaço físico inapropriado para as ações em saúde, ausência ou insuficiência de equipamentos que dão apoio ao processo informacional, além da conectividade precária de internet. A utilização de carro adaptado para atendimento móvel, foi um ponto em potencial. No sentido das práticas em saúde, o reconhecimento da dinâmica do território foi tido como algo fundamental para o processo de cuidado da população em situação de rua. As atividades individuais e visitas aos abrigos e espaços de relação na rua apresentaram-se como ações rotineiras; ratificou-se a importância das eCR como pontos de articulação nos diversos espaços de atenção, principalmente, devido à dificuldade de acesso dos usuários em situação de rua. Evidenciaramse barreiras à instituição da informação como ferramenta estratégica ao processo de cuidado, tais como: ausência de instrumentos com uma lógica de padronização dos campos de registros; múltiplos fluxos de registros; utilização dos telefones pessoais, como meio preconizado para a troca das informações em saúde. O instrumento de coleta de dados, produto dessa pesquisa, apresentou campos para facilitar a consolidação das informações e voltados ao registro qualitativo de informações específicas. Essa configuração possibilita ações de monitoramento, que vão desde o reconhecimento do perfil da população e mapeamento dinâmico do território de atuação até o acompanhamento do cuidado a partir de indicadores de desempenho. As reflexões apresentadas visam suscitar a adoção de instrumentos de registros pautados no reconhecimento das complexidades da população, com o objetivo de potencializar o campo da informação no SUS, em prol da garantia de direitos, da equidade e da integralidade do cuidado da população em situação de rua.