Aplicabilidade dos métodos alternativos na avaliação toxicológica de nanopartículas

Abstract

As propriedades variáveis e ainda desconhecidas das nanopartículas (NPs) representam um vasto campo de inseguranças e a abundância de produtos nanoestruturados no mercado faz crescer a preocupação quanto aos possíveis riscos humanos e ambientais envolvidos. Os métodos alternativos têm sido cada vez mais utilizados na avaliação toxicológica por agregarem ética e inovação tecnológica. No Brasil, o Conselho Nacional de Controle de Experimentação Animal (CONCEA) reconheceu 25 métodos alternativos até o momento. Este trabalho buscou avaliar a aplicabilidade dos métodos alternativos reconhecidos nas Resoluções Normativas do CONCEA para a avaliação toxicológica de NPs. As bases usadas foram: Pubmed, BVS, SciELO e Open Gray; em português, inglês e espanhol. Os resultados abordaram testes de corrosão dérmica, irritação cutânea, fototoxicidade, sensibilização cutânea, detecção de endotoxinas e o teste de citotoxicidade para a estimativa da dose inicial para ensaios de toxicidade aguda oral sistêmica. Os ensaios da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (do inglês, “Organization for Economic Co-operation and Development” -OECD) foram comparados a dosagens de citocinas, avaliações histopatológicas, testes de citotoxicidade 2D, testes 3D e testes in vivo. Os modelos de epiderme humana reconstruída (do inglês, reconstructed human epidermis-RHE) para a avaliação de irritação cutânea e corrosão dérmica de NPs, bem como o ensaio 3T3-NRU (corante vermelho neutro, do inglês, neutral red uptake - NRU) para avaliação de fototoxicidade e o ensaio do linfonodo local (do inglês, local lymph node assay-LLNA): 5-bromo-2-deoxiuridina(BrdU)- Ensaio de Imunoabsorção Enzimática (do inglês, enzyme linked immunosorbent assay - ELISA) para avaliação da sensibilização cutânea, apontam convergências nas comparações realizadas entre o método alternativo e os testes paralelos. Já o 3T3-NRU para determinação de faixa de doses para estudo de toxicidade aguda oral sistêmica é aconselhável apenas como estudo de triagem. Alguns atributos de caracterização de NPs considerados essenciais pela literatura científica não foram aferidos completamente nos estudos em questão, de forma que não se exclui a possibilidade de ocorrência de viés metodológico. É urgente a formalização de protocolos específicos para testes de segurança de NPs, inclusive para os testes de citotoxicidade. Estudos que envolvem a aplicação das diretrizes metodológicas da OECD são escassos e devem ser estimulados. Com relação ao teste de endotoxina bacteriana, foram relatadas interferências na leitura óptica e nas fluorescências (causa não identificada) em decorrência das propriedades das NPs. Para evitálas, recomendou-se o uso de árvore decisória e a realização de testes-controle. Logo, o teste de endotoxina bacteriana pode ser utilizado nos estudos com NPs, porém com ressalvas. Sabendo- se que a despirogenização pode gerar alteração nos efeitos biológicos das NPs, sugere-se a prevenção da contaminação das NPs tanto na síntese quanto nos ensaios, por meio do uso de protocolos bem estabelecidos Por fim, nosso estudo evidencia a necessidade de se estabelecer um processo de caracterização mais completo para as NPs, já que a confiabilidade dos resultados está, diretamente, relacionada a essa etapa preliminar