Por uma arqueologia do transfeminicídio: relações entre masculinidades e a violência letal contra travestis e mulheres trans no Brasil

Abstract

Em 15 de fevereiro do ano de 2017, Dandara Kettlyn de Velasques, de 42 anos, foi espancada, torturada e morta a tiros por cinco homens, no bairro Bom Jardim, em Fortaleza, no Estado do Ceará. Outros três homens assistiam a cena. O assassinato chocou o mundo quando o vídeo de sua execução, gravado por um dos homens envolvidos no crime, viralizou nas redes sociais 18 dias após a sua morte; as fortes imagens mostravam Dandara ensanguentada no chão, recebendo pauladas, chutes e sendo xingada por pelo menos outros quatro homens. Três tiros fatais encerraram sua vida. Partindo desta questão central, esta tese busca contextualizar o termo transfeminicídio, numa ótica transfeminista, dentro do contexto brasileiro; perscrutar algumas particularidades do transfeminicídio no Brasil; e por fim, explorar as possíveis relações entre masculinidades e o transfeminicídio no país numa ótica interdisciplinar entre as ciências sociais, a psicologia e a psicanálise. Conclui-se que o transfeminicídio é uma questão é multidimensional, e representa uma grande confluência de entrecruzamentos de caminhos, e significativos desvios. No emaranhado da esfera social de lógica capitalista, observa-se a alienação de homens autores de violência imersos numa lógica machista, misógina, de corpos que enfileiram-se como numa “linha de montagem”; que corpos importam? Na dimensão subjetiva – no escopo da psicologia e da psicanálise – desejo e repulsa deixam de serem pensadas como categorias antagônicas, para serem apreendidas como complementares – um complexificador da questão da violência, e dos conceitos de abjeção, pureza e perigo. Afinal, por que tantas mulheres transexuais e travestis são brutalmente assassinadas por homens no Brasil?