Corpos em fuga: africanos orientais na Corte oitocentista (1830-1850)

Abstract

Durante a primeira metade do século XIX, a escravização no Rio de Janeiro viveu o maior impacto do tráfico atlântico. A chegada da corte portuguesa teve efeitos significativos na escravidão africana, atraindo mão de obra escrava para a Corte do Império, aumentando a demanda por escravizados, impulsionando o tráfico e dobrando média de importação. Assim, nenhuma outra cidade nas Américas se aproximou do quantitativo da população escravizada do Rio neste quartel. Diante do complexo cenário em torno do tráfico de escravizados no período, diversos pesquisadores têm se inclinado a pensar as mais variadas possibilidades metodológicas a fim de compreender as relações entre Saúde e Escravidão. Todavia, mesmo diante do significativo aumento de inquirições sobre a temática, pouco se sabe sobre o “corpo escravizado” sob a perspectiva de sua agência na sociedade escravista. Logo, considerando a iminência de trabalhos que chamam atenção às questões como identidades, organização social e condição de vida de africanos escravizados, aliados à significativa ausência de análises com enfoque em africanos da contracosta, esta investigação é norteada por dois eixos temáticos interseccionados: a complexidade das relações entre diferentes camadas sociais na urbe - que pode ser observada e problematizada por meio dos anúncios de escravizados afro-orientais fugidos - e a análise sobre o “corpo escravizado”, para além do corpo objetificado pela Escravidão, no complexo período oitocentista. Estas temáticas ganham caráter significativo à medida em que as expectativas dos escravizados são compreendidas, de forma efetiva, como parte das relações na sociedade escravista nos Oitocentos. Sendo assim, a proposta este trabalho pretende realizar um debate, aliado às discussões historiográficas de Saúde e Escravidão, sobre os corpos de africanos orientais escravizados - a partir do exame de marcas e sinais - entre os anos 1830 a 1850, momento de aumento significativo de entrada de africanos orientais no Rio de Janeiro. Para municiar esta análise, serão perscrutados anúncios de escravizados afro-orientais fugidos a partir do Diário do Rio de Janeiro no período delimitado, entendendo que tal periódico teve grande difusão entre os diversos setores da sociedade, possibilitando a arguição de quantidade expressiva de anúncios, permitindo, assim, o exame de suas polissemias.