Diversidade genética de Trypanosoma Cruzi conforme a classificação por DTU (discrete typing units – TcI-TcVI) e correlação com a apresentação clínica da doença de Chagas

Abstract

A doença de Chagas é a endemia parasitária mais importante do continente Latino Americano com enormes repercussões econômicas, sociais e na Saúde Pública dos países afetados. Há cerca de 6 a 7 milhões de infectados por Trypanosoma cruzi e 70 milhões ainda vivendo em áreas de risco de transmissão na América Latina. Apesar de parte significativa apresentar a forma indeterminada, cerca de 40% dos indivíduos afetados apresenta doença cardíaca ou digestiva, causando mortes precoces em todo o continente. Nas últimas décadas tivemos muitos avanços no conhecimento da genética do T. cruzi, sendo as associações dos diferentes genótipos com a patogenia da doença de Chagas um fator não totalmente esclarecido. Ao longo das últimas décadas várias designações foram sugeridas para a classificação bioquímica, biológica e genética do protozoário T. cruzi, que é provido de grande variabilidade pela interação com seus inúmeros reservatórios, vetores e ciclos de transmissão. A diversidade genética de T. cruzi compreende seis unidades discretas de tipagem (DTUs) – TcI, TcII, TcIII, TcIV, TcV, TcVI e TcBat Com relação à distribuição geográfica dos genótipos de T. cruzi, TcI parece predominar em ciclos silvestres em toda a área endêmica da doença de Chagas e em infecções humanas na região amazônica, norte da América do Sul, América Central e México. Enquanto TcII, TcV e TcVI estão envolvidos em infecções humanas no Brasil, Argentina, Bolívia, Chile e Paraguai, com indícios de maior envolvimento com as formas patogênicas mais graves da fase crônica. Este estudo tem por objetivo ampliar o conhecimento das diferentes DTUs e sua associação com as diferentes apresentações clínicas da fase crônica da doença de Chagas e sua distribuição geográfica no território brasileiro. Para tal, realizamos o diagnóstico molecular utilizando a técnica de PCR convencional multilocus para genotipagem das amostras de T. cruzi obtidas de 43 pacientes do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas. Dados clínicos e epidemiológicos foram obtidos dos prontuários médicos. Os resultados demonstraram maior frequência de TcII e menor de TcVI, a predominância de indivíduos oriundos das regiões Nordeste e Sudeste, elevada proporção de cardiopatia chagásica (51,1%), seguida da forma indeterminada (25,6%) e da forma mista cardiodigestiva (23,3%). Durante o período de acompanhamento, observou-se alta proporção de progressões (18,6%) e de óbitos (32,5%) relacionados à forma cardíaca da doença de Chagas entre os pacientes com hemoculturas positivas e infectados por TcII