Qualidade da dieta e sua associação com a segregação socioeconômica e o excesso de peso em crianças de 6 a 59 meses usuárias do Sistema Único de Saúde do Rio de Janeiro

Abstract

Introdução: A alimentação adequada e saudável deve ser baseada em uma dieta diversificada. Por outro lado, os alimentos ultraprocessados (AUP) não devem estar presentes na alimentação de crianças pequenas e para a população maior de dois anos seu consumo deve ser limitado. A segregação socioeconômica residencial, definida como o grau de separação física entre grupos em função de padrões de rendimentos, tem sido apontada como um importante determinante da alimentação, afetando a disponibilidade e a variedade de alimentos in natura ou minimamente processados e de AUP e, consequentemente, o consumo alimentar individual de adultos. Por sua vez, o maior consumo de AUP vem sendo consistentemente associado à obesidade em adultos, porém há menos pesquisas que investiguem essa relação na população infantil e os achados até o presente momento são inconclusivos. Objetivos: Artigo 1: Examinar a associação entre a segregação socioeconômica residencial e qualidade da dieta de crianças de 6 a 59 meses de idade usuárias de unidades básicas de saúde (UBS) no município do Rio de Janeiro. Artigo 2: Examinar a associação entre o consumo de AUP e o excesso de peso (sobrepeso e obesidade) em crianças de 6 a 59 meses de idade usuárias de UBS no município do Rio de Janeiro. Método: Estudo seccional, com amostra probabilística e com seleção em dois estágios: em um primeiro foram selecionadas as UBS e em seguida, as crianças. Para o primeiro artigo, a segregação socioeconômica residencial foi aferida pela estatística Getis-Ord Local Gi*, a partir da proporção de pessoas responsáveis pelos domicílios com rendimento mensal de até três salários mínimos Para a qualidade da dieta, foram utilizados os indicadores de diversidade alimentar mínima (dimensão positiva da alimentação) e participação de AUP no total de energia (dimensão negativa da alimentação). Foram utilizadas regressão logística múltipla (segregação versus diversidade) e regressão quantílica (segregação versus participação de AUP). Para o segundo artigo, a participação de AUP no total de energia foi a variável de exposição e a variável desfecho, o excesso de peso (índice de massa corporal por idade (IMC/I) > 2 escores Z). Modelos de regressão logística múltipla foram utilizados para investigar a associação entre o consumo de AUP e o excesso de peso. Resultados: No artigo 1 verificou-se que, das 469 crianças estudadas, 49,92% viviam em vizinhanças altamente segregadas socioeconomicamente. A alta segregação socioeconômica apresentou significância estatística com a participação de AUP nos quantis (60-80). No segundo artigo foram estudadas 527 crianças. Não foi encontrada associação estatisticamente significativa entre o maior consumo de AUP e o excesso de peso nos modelos brutos e ajustados. Conclusão: A segregação socioeconômica foi associada estatisticamente a alguns quantis de consumo de AUP. Não foi encontrada associação entre o consumo de AUP e excesso de peso infantil.