Padrões das tentativas e dos suicídios no Brasil: disparidades étnicoraciais, regionais e etárias

Abstract

O suicídio é um fenômeno multifatorial e complexo, múltiplos fatores estão na matriz de sua determinação e abrangem interrelações entre a influência do processo de desenvolvimento, o apoio social, experiências de vida prévias, fatores comportamentais, estilo de vida, fatores individuais na suscetibilidade ao estresse, entre outros. O Brasil apresenta grandes assimetrias regionais, com taxas de suicídio em grupos específicos que se igualam às maiores taxas no mundo, expondo elevados níveis de desigualdade. Esta tese investigou os padrões e a tendência temporal do suicídio no período de 2000 a 2021, assim como os padrões das tentativas de suicídio, no Brasil, de 2015 a 2021. O estudo foi realizado em duas etapas. Na primeira, estudo de corte seccional a partir de dados oriundos do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Para caracterização do padrão de suicídios e tentativas de suicídio foi aplicada a análise de correspondência múltipla, que mostrou as características relacionadas ao suicídio e às tentativas nas duas primeiras dimensões, explicando 19,1% e 20,2% da variabilidade total dos dados, respectivamente. Para identificar os perfis de ambos foi implementada a análise de agrupamentos, que apontou para a formação de três grupos referentes aos suicídios e às tentativas. Na segunda etapa, realizado estudo ecológico de série temporal a partir de dados do SIM. Nesta fase foi avaliada a tendência temporal da mortalidade por suicídios no Brasil, segundo o grupo etário e a raça/cor, por meio da regressão de Joinpoint. Observada ampla variação dos perfis de suicídios e das tentativas de suicídio no país. Diferenças locais e sociodemográficas se mostraram significativas e apontaram distintos perfis de vulnerabilidade Os resultados mostraram tendências de crescimento do suicídio em todo o país, independente do grupo etário e raça/cor. Exceto na raça/cor preta, todas as outras apresentaram tendência de aumento. As maiores taxas e elevações concentraram-se entre os indígenas. Verificou-se tendência de aumento em todos os grupos etários, com destaque para os adolescentes. Notouse disparidades etárias e étnico-raciais relevantes, além de distribuição heterogênea do padrão a nível estadual ao longo do período. Identificou-se distribuição sociodemográfica particular para o suicídio, permitindo identificação de perfis de grupos mais vulnerabilizados, como indígenas e adolescentes. Políticas públicas específicas e de caráter regionalizado devem estar voltadas para grupos vulneráveis e minoritários. Minimizar assimetrias regionais e promover a redução de disparidades no país estão entre as medidas a serem priorizadas intersetorialmente na prevenção do suicídio, particularmente em grupos mais vulnerabilizados.