A doação de sangue por LGBTQIAPN+: concepções morais, tensões e disputas sociais

Abstract

O sangue, do ponto de vista simbólico, é representado como ‘fonte da vida’. A necessidade de sangue e seus componentes para transfusões de pacientes em tratamentos de quadros de doenças crônicos e de risco iminente são indispensáveis para a garantia da vida. Apesar dos avanços da indústria farmacêutica e da evolução da tecnologia na saúde, ainda hoje o sangue não conseguiu ser substituído pela indústria. A luta pelo direito à doação de sangue por parte do movimento LGBTQIAPN+ iniciou-se em 2016, com uma ação de inconstitucionalidade no Superior Tribunal Federal cuja deliberação foi favorável a toda população em 2020. Por muitos anos, desde o advento do HIV e da Aids, os homens homossexuais e bissexuais, bem como as travestis e as transexuais, não podiam doar sangue, pois eram inclusos em “grupos de risco” de alta probabilidade para o HIV/Aids. Tais pessoas estavam/estão envoltas em situações preconceituosas e estigma social, tendo sua imagem associada às ideias de “risco” e “promiscuidade”. Esta pesquisa teve como objetivo compreender as práticas e representações sobre doação de sangue por LGBTQIAPN+ num banco de sangue inserido num hospital da rede pública federal no Estado do Rio de Janeiro. Para tanto, foi realizada uma etnografia em que foram realizadas 23 entrevistas com voluntários doadores de sangue e 18 entrevistas com profissionais de saúde. Dentre as entrevistas realizadas, 6 voluntários autorreferiram-se como LGBTQIAPN+ e 2 profissionais de saúde se autorreferiram-se como LGBTQIAPN+. Também foram realizadas anotações detalhadas sobre o cotidiano do serviço de banco de sangue em diário de campo, notas estas provenientes de observação participante realizada na unidade, desde a recepção dos voluntários à saída, ao final do atendimento. A observação das relações intersubjetivas entre voluntários e profissiona