Vírus zika em gestantes assintomáticas: casuística de um centro de referência e a repercussão no neurodesenvolvimento dos filhos

Abstract

Introdução: admite-se que a exposição intrauterina ao vírus Zika (ZIKV) pode levar a atrasos no neurodesenvolvimento mesmo em crianças sem microcefalia e assintomáticas ao nascimento. Poucos estudos têm comparado o neurodesenvolvimento de crianças nascidas de mães assintomáticas, mas expostas. Objetivo: avaliar o neurodesenvolvimento de crianças de 11 a 36 meses de vida, assintomáticas, com e sem exposição intrauterina ao ZIKV. Método: estudo de coorte com crianças nascidas de mães com infecção assintomática pelo ZIKV diagnosticadas após o nascimento. A avaliação foi realizada pela comparação dos escores da Bayley III nos domínios cognitivo, linguagem e motor entre os assintomáticos com PRNT positivo consideradas expostas e filhos de gestantes com PRNT negativo, consideradas não expostas. Resultado: avaliamos 72 crianças, 37 com exposição intrauterina ao ZIKV e 35 sem exposição. Encontramos vinte e oito crianças (38,9%) com alteração em pelo menos um dos domínios avaliados. O atraso mais prevalente foi no domínio de linguagem, afetando 24 crianças (33,3%) seguida de cognitivo 16,7% e motor 12,5%. Encontramos diferença estatística significativa na comparação entre os dois grupos com atraso de linguagem no grupo exposto. Observamos também atraso na linguagem expressiva relacionado ao atraso motor fino. Conclusão: confirmamos o atraso no desenvolvimento da linguagem em lactentes e pré-escolares expostos ao ZIKV de mães assintomáticas na gestação e ressaltamos a importância de continuarmos o acompanhamento das crianças até a idade escolar. O diagnóstico precoce dos atrasos permite intervenções que podem modificar o desempenho global futuro das crianças.