Impacto do bloqueio de MR1 no fenótipo e função dos fagócitos durante infecção por L. infantum

Abstract

A leishmaniose visceral (LV) é uma doença causada por protozoário do gênero Leishmania. As células alvo para a Leishmania são os fagócitos mononucleares como os monócitos/macrófagos. A avaliação da relação parasito-fagócito e a interação fagócito-linfócito é fundamental para o entendimento dos desfechos da doença. Pouco se sabe sobre o papel do MR1, receptor relacionado ao MHC-I e associado à ativação de células T invariantes associadas a mucosa (MAIT), em doenças causadas por protozoários, especialmente o impacto que o seu bloqueio exerce sobre as células que o expressa. Nesse sentido, o presente estudo avalia o impacto do bloqueio do MR1 no perfil fenotípico e funcional de fagócitos mono e polimorfonucleares do sangue periférico no contexto da LV humana. Para tanto, amostras de sangue periférico de indivíduos saudáveis, não infectados (NI), indivíduos infectados com L. infantum, porém assintomáticos (AS) e pacientes com LV clássica, que foram avaliados antes (LV-PRÉ) e após o tratamento (LV-PÓS), foram cultivadas na presença ou ausência de formas promastigotas de L. infantum e do bloqueio anti-MR1. Os resultados mostraram maior taxa de internalização de L. infantum por neutrófilos e monócitos de indivíduos dos grupos NI e AS quando comparados aos grupos LV-PRÉ e LV-PÓS, independentemente do bloqueio anti-MR1. O bloqueio do receptor MR1 promoveu redução na frequência de neutrófilos produtores de NO, associado ao aumento de células TNF+ e IFN-+ em pacientes do grupo LV-PRÉ. No grupo NI, embora o bloqueio tenha levado ao aumento do percentual de neutrófilos TNF+, IL-12+ e IFN-+, em monócitos, promoveu aumento de IL-10 e TGF-. Outra abordagem do nosso estudo que pode corroborar os achados de avaliação funcional dos fagócitos foi a avaliação do perfil de biomarcadores imunológicos presentes nos sobrenadantes das culturas. Quando avaliamos as assinaturas de alto produtores, observamos forte impacto exercido pelo bloqueio de MR1 no perfil de alto produtores de citocinas pró-inflamatórias e fatores de crescimento no grupo AS. Outro ponto interessante da avaliação panorâmica dos dados foi o perfil de atributos compartilhados entre NI e AS, onde a estimulação com L. infantum induziu aumento expressivo de atributos, especialmente pró-inflamatórios e do eixo Th17 e o bloqueio impactou fortemente nesse perfil. Observamos também que o bloqueio de MR1 impactou fortemente as correlações entre biomarcadores pró-inflamatórios/moduladores/Th17 presentes nos grupos NI e AS após estimulação com L. infantum. Por outro lado, na LV clássica, a presença de alto produtores de IL-10 e IL-27 é marcante e se mantém forte mesmo com o bloqueio da via de ativação de células MAIT. Também observamos perdas de compartilhamento de biomarcadores (pró-inflamatórios e moduladores) nos grupos LV-PRÉ e LV-PÓS quando em cultura na presença de L. infantum, especialmente de biomarcadores pró-inflamatórios, que ganhou maior expressão na presença do bloqueio anti-MR1. Na LV-PRÉ e LV-PÓS observa-se ainda aumento de correlações e da força dessas interações nas culturas estimuladas com L. infantum, que aumentam com o bloqueio de MR1, mas sem envolvimento de citocinas pró-inflamatórias e do eixo Th17. De modo geral, os resultados mostram que o MR1 se apresenta importante para a produção e secreção de citocinas pró-inflamatórias e do eixo Th17, mostrando um papel possivelmente protetor das células restritas ao MR1 na LV. É importante ressaltar que este trabalho é o primeiro a demonstrar o impacto do bloqueio do MR1 no perfil fenotípico e funcional dos fagócitos, especialmente no contexto da leishmaniose visceral.