Prática de atividade física entre mulheres estudantes trabalhadoras: aproximações sobre o ensino de educação física, interseccionalidade e a promoção da saúde

Abstract

Este estudo situa-se em um contexto político de reformas educacionais e políticas de reduções de repasses de recursos públicos para a Saúde e Educação, que apontam para uma proposta de formação educacional mínima à classe trabalhadora. Promover espaços de ensino que fomentem a participação popular, almejando a preparação de coletivos para reivindicação dos direitos sociais se faz necessário. A partir do questionamento de como a Educação Física (EF) escolar pode viabilizar a abordagem crítica dos pressupostos de exercício de direitos e promoção da saúde na Educação Básica (EB), este estudo tem como tema a prática de atividade física exercida por mulheres estudantes da EB. Partindo da premissa que a Educação é um determinante social de saúde, o objetivo desta pesquisa é analisar nos relatos das estudantes da EB os indicadores comuns que proporcionam ou não a prática de atividade física/esportiva (AFE) e a participação das mulheres nesses espaços. Esta pesquisa tem caráter descritivo e exploratório com abordagem metodológica qualitativa. O estudo foi realizado na Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e as entrevistas foram realizadas com as estudantes da EB. Utilizou-se entrevista semiestruturada como instrumento de coleta de dados. A análise e interpretação das entrevistas teve como referencial teórico-metodológico a análise de conteúdo temática de Bardin, ancorada nas teorias da interseccionalidade e de Paulo Freire. As entrevistadas expuseram os fatores que afetam o acesso as AFE em seus territórios Após a análise e interpretação das entrevistas, foram mapeados os indicadores que afetam a prática de AFE expostas pelas participantes, são eles: a violência urbana e a violência de gênero; a baixa oferta de atividades gratuitas orientadas por professores de EF; a provisoriedade das atividades oferecidas pelo poder público em alguns territórios; o custo financeiro das atividades, mesmo quando oferecidas em espaços públicos; a baixa oferta de creches e escolas em tempo integral; o trabalho reprodutivo em conciliação com trabalho produtivo que elabora a dinâmica de vida das mulheres; a superexploração causada pela baixa remuneração salarial e trabalhos que exigem dedicação de tempo desestruturada; a invisibilidade das mulheres nos esportes; e a uberização dos professores de EF. Conclui-se que é necessário considerar a interseccionalidade como uma das ferramentas analíticas da corporeidade de estudantes da EB articulada com estudos decoloniais na concepção de currículo de EF e as contribuições de Paulo Freire para o ensino de EF