Negacionismo científico em foco: desenvolvimento de ações em educação popular em saúde na formação inicial de profissionais de saúde

Abstract

A educação popular em saúde emergiu, no Brasil, como uma estratégia de construção da participação popular na saúde e na vida social da população. Tal concepção educativa considera os determinantes sociais da saúde envolvidos no processo saúdedoença da sociedade, sendo então um desafio a ser trabalhado com futuros profissionais de saúde, pois preza pela construção compartilhada dos saberes, através da participação ativa dos sujeitos. Uma problemática que surgiu durante a pandemia da COVID-19 foi o crescimento do negacionismo científico, impulsionado pela extremadireita e fortalecido pelo distanciamento entre a população e a ciência. Nesse cenário, é importante promover ações educativas durante a formação inicial em saúde, baseadas na educação popular, para que esses futuros profissionais possam promover ações conjuntas que causem impactos positivos na sociedade, levando em conta a realidade do público-alvo. A partir da pergunta “é possível desenvolver ao longo da formação inicial dos profissionais de saúde estratégias que possibilitem um melhor diálogo com a população, de forma a enfrentar os problemas advindos do negacionismo científico?”, este trabalho objetivou desenvolver ações pedagógicas, na perspectiva da educação popular em saúde, na formação inicial de profissionais de saúde, que promovessem a discussão sobre o negacionismo científico e como enfrentar esse fenômeno. Tais ações estão articuladas com um projeto de extensão da Universidade Federal Fluminense (UFF), que atua com educação popular em saúde no Morro da Providência. A pesquisa tem abordagem qualitativa, e os resultados foram analisados à luz da análise de conteúdo de Bardin, no contexto da educação popular Foram desenvolvidas oficinas com estudos de caso e posterior elaboração de ações educativas em saúde pelos alunos de uma disciplina de educação em saúde da UFF, no qual foram analisados os trabalhos que abordaram o negacionismo científico. Durante as oficinas, a discussão sobre como lidar com o negacionismo foi extensa, e, apesar de inicialmente muitos declararem ser impossível promover o diálogo, foram destacadas ações pautadas na afetividade e no diálogo. Na produção dos projetos em saúde, foram percebidos discursos em consonância com a educação popular, e outros que se confundiam com a educação sanitária. As atividades permitiram uma construção dialógica do conhecimento, porém os educandos apresentaram dificuldades na promoção do diálogo, sendo essa discussão, de fato, muito desafiadora. Desta forma, almeja-se dar continuidade ao projeto em uma perspectiva real de aproximação dos discentes com a população, através do projeto de extensão, possibilitada pela curricularização da extensão. Pretende-se contribuir para a formação desses profissionais, aproximando-os da educação popular, de forma a despertar uma maior consciência crítica do problema do negacionismo científico e da importância de ter como princípio da sua prática profissional a saúde popular