Apneia Obstrutiva do Sono e sua associação com as diferentes formas e gravidade da Doença de Chagas

Abstract

Introdução: A doença de Chagas (DC) é uma infecção causada pelo parasito Trypanosoma cruzi. Sua forma crônica cardíaca pode cursar com manifestações graves como arritmias, tromboembolismo ou morte súbita e é a principal causa da alta morbimortalidade dessa doença. A Apneia Obstrutiva do Sono (AOS) é comorbidade muito prevalente, porém subdiagnosticada. O exame de referência para seu diagnóstico, a polissonografia, é exame de alto custo e ferramentas de triagem de risco como o Questionário de STOP-Bang (QSB) podem facilitar o acesso a esse exame. Embora o impacto da AOS em cardiopatas e sua associação com risco cardiovascular e disfunção metabólica seja bastante estudada, poucos achados na literatura avaliam sua associação à DC. Objetivo: O objetivo deste estudo foi estimar a frequência de risco para AOS em pacientes com DC por meio da aplicação do QSB e associar o risco para AOS a diferentes formas clínicas, gravidade e características clínico-epidemiológicas dos pacientes com DC. Metodologia: Este foi um estudo observacional seccional comparativo em pacientes com DC atendidos no Laboratório de Pesquisa Clínica em Doença de Chagas (LapClin-Chagas). Os pacientes responderam ao Questionário STOP-BANG e Questionário de Epworth. Foram colhidos do prontuário dados clínicos, epidemiológicos e de exames complementares. A associação entre variáveis categóricas foi verificada pelo teste para proporção do tipo qui quadrado de Pearson. Na comparação das variáveis contínuas foram empregados a Análise de Variância e teste t, no caso de normalidade, e Mann-Whitney, no caso de rejeição da normalidade. Consideramos P valores <0,05 como testes estatisticamente significativos. Resultados: Foram incluídos 133 pacientes no estudo. Destes, 64,7% dos pacientes eram mulheres e a idade média foi 67,1 anos A frequência de médio e alto risco para AOS encontrada foi de 51,6% e 29,2%, respectivamente. O médio e alto risco para AOS esteve associado a presença de hipertensão arterial, classificação de Mallampati modificada classes 3 e 4, idade e tamanho da circunferência cervical. O alto risco para AOS esteve associado também a sonolência excessiva diurna, índice de massa corporal, circunferência abdominal e diabetes mellitus. Não houve associação estatisticamente significativa entre o risco para AOS e formas clínicas da DC ou presença de disfunção ventricular. Conclusão: A prevalência de médio e alto risco para AOS foi alta nos pacientes com DC, porém sua associação com forma cardíaca e gravidade de DC não foi confirmada