Padrões de trajetórias de autoavaliação de saúde, fatores associados e sua associação com o conflito trabalho-família: resultados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil)

Abstract

A autoavaliação de saúde (AAS) é um importante marcador de morbimortalidade, amplamente utilizado por sua alta precisão e baixo custo. No entanto, avaliações longitudinais da AAS são escassas, em especial em populações de trabalhadores. As transformações no mundo contemporâneo do trabalho desafiam o equilíbrio entre esferas pessoal e do trabalho. O conflito trabalho-família (CTF), surge quando demandas do trabalho e da família são mutuamente incompatíveis, e está associado na literatura com pior AAS. Essa tese tem como objetivo geral identificar fatores sociodemográficos, ocupacionais e de saúde associados aos diferentes padrões de trajetórias de AAS e investigar o papel da escolaridade como modificador de efeito na associação do CTF com as trajetórias de AAS entre homens e mulheres. Para atender a este objetivo foram utilizados dados de trabalhadores ativos na linha de base (2008-2010), ONDA 2 (2012-2014), ONDA 3 (2017-2019) e ligações de monitoramento do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil). Trata-se de um estudo de coorte multicêntrico, realizado em seis instituições públicas de ensino e pesquisa do Brasil, no qual são avaliados aspectos da saúde física e mental, bem como informações sociodemográficas, comportamentais, hábitos de vida e características ocupacionais. A presente tese é composta de dois artigos. O primeiro, teve o objetivo de descrever padrões de trajetórias de AAS e investigar fatores sociodemográficos, ocupacionais, e de saúde associados. Para construção das trajetórias de AAS foram utilizados dados de 7872 trabalhadores ativos das três ondas e ligações de monitoramento do ELSA-Brasil Os padrões foram obtidos por meio da curva de crescimento latente (LCGM), e para identificar os fatores sociodemográficos, ocupacionais e de saúde associados às trajetórias identificadas foi utilizado o modelo de regressão logística multinomial (...) Os achados desta tese evidenciaram que piores condições socioeconômicas, ambiente ocupacional adverso e piores condições de estilo de vida e comorbidades estão associadas às piores trajetórias de saúde. Além disso, o gênero e a escolaridade se mostraram covariáveis importantes na associação entre o CTF e as trajetórias de saúde, sendo que a escolaridade se mostrou modificador de efeito na associação da falta de tempo para o autocuidado com piores trajetórias de AAS entre as mulheres. Dessa forma, ratifica-se a necessidade de criação de políticas públicas que minimizem as desigualdades sociais, promovam um ambiente de trabalho sadio, que respeite as fronteiras entre vida pessoal e profissional, e que fomente a igualdade de gênero no Brasil.