Análise das causas declaradas de natimortalidade e sua reclassificação pelo sistema Codac em dois centros de referência no município do Rio de Janeiro

Abstract

O número de natimortos em todo o mundo vem decaindo lentamente nos últimos anos, apesar de ainda ser expressivo em valores absolutos. Nesse contexto, a taxa de mortalidade fetal pode funcionar como um importante indicador, refletindo a assistência obstétrica e perinatal em um país. Entender os fatores envolvidos nos casos de natimortalidade e classificá-los adequadamente pode contribuir para identificação de casos evitáveis e melhora da assistência perinatal no Brasil. O objetivo deste estudo - descritivo, observacional, de base hospitalar, retrospectivo - foi identificar causas e condições relacionadas aosóbitos de fetos com mais de 22 semanas, assistidos no Instituto Nacional de Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente Fernandes Figueira (IFF) e Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE), no período de 2009 a 2018, e sua reclassificação pelo sistema Codac. Foram encontradas diferenças populacionais entre Centros, principalmente no que diz respeito à etnia e situação conjugal: no HUPE havia predomínio de mulheres pretas e pardas e sem parceria. Quanto à história obstétrica anterior, mulheres com maior número de abortamentos e história de natimorto anterior se concentravam mais no HUPE; quanto ao histórico da gestação atual, mulheres sem comorbidades definidas eram maioria no IFF e predominava também neste centro o início de pré-natal mais tardiamente. Fetos com restrição de crescimento e peso menor que 1.000 gramas eram a maioria no HUPE, dado alinhado com as diferenças interinstitucionais. Quanto à investigação dos óbitos fetais, percebeu-se que cada instituição realizava predominantemente uma parcela de exames, de acordo com seu perfil de assistência: o HUPE investigava causas relacionadas ao alto risco materno e o IFF, causas relacionadas ao alto risco fetal. Após reclassificação Codac, as principais causas de morte no IFF se concentravam no capítulo relativo a malformações congênitas e, no HUPE, no capítulo relacionado a gravidez, parto e puerpério. Por fim, foi estabelecido que a reclassificação pelo sistema Codac mudava o CID-10 atibuído à causa do óbito em 73,9% dos casos no HUPE e em 35,7% dos casos no IFF, demonstrando que o grau de refinamento desse sistema pode ser mais efetivo e útil no processo de investigação do óbito em diferentes cenários.