Escutar não é o mesmo que ouvir: narrativas sobre a saúde de pessoas com surdez

Abstract

O entendimento sobre o conceito de surdez vem se transformando ao longo da história, e o estigma imposto a esse conceito, torna-se um limitador nas relações entre pessoas ouvintes e não ouvintes. A comunicação é o principal elo na geração de vínculos. No cuidado em saúde, pessoas com deficiência são vulnerabilizadas quando ocorrem falhas na comunicação com profissionais de saúde, e várias barreiras precisam ser superadas para que essas pessoas possam participar plenamente na sociedade. Deste modo, o objetivo da pesquisa foi compreender as questões que envolvem o acesso aos serviços de saúde pessoas com surdez ou deficiência auditiva em uma sociedade predominantemente ouvinte. Interessados nas vivências desses indivíduos, o estudo adotou um delineamento qualitativo e utilizou, para coleta e análise dos dados, o método das Narrativas de Vida de Daniel Bertaux. A amostra foi composta por 8 participantes que integram o corpo de trabalho de um projeto realizado na FIOCRUZ, que visa a empregabilidade de pessoas surdas nos campi do IFF, da Maré e de Manguinhos, os quais foram entrevistados e apresentaram suas narrativas de vida. A partir da análise das narrativas, foram criadas três seções de discussão: 1 - o acesso à serviços de saúde das pessoas surdas em uma sociedade ouvinte; 2 - o trabalho como integrador social; e 3 - as relações interpessoais. As barreiras comunicacionais e atitudinais enfrentadas pela população surda configuram-se como os principais obstáculos em relação ao seu acesso aos cuidados de saúde. Dar “voz” ao outro através das narrativas de vida nos ajuda a compreender o seu olhar na construção das suas relações no processo da acessibilidade e inclusão.