Desenvolvimento motor de crianças nascidas com gastrosquise em um hospital de referência do estado do Rio de Janeiro e a relação com os fatores ambientais e pessoais

Abstract

A gastrosquise (GTQ) é uma malformação congênita, caracterizada por um defeito no fechamento da parede abdominal anterior, que necessita de intervenção cirúrgica e hospitalização prolongada, o que pode levar a um comprometimento do desenvolvimento neuropsicomotor. O desenvolvimento neuropsicomotor é um processo de aquisição de habilidades motoras, sensoriais, psicossociais e de linguagem que envolve aspectos biológicos, além de fatores ambientais e sociais. Desta forma, para uma correta avaliação do desenvolvimento motor é importante compreender a estimulação que a criança recebe do ambiente e das pessoas ao seu redor, principalmente dos seus pais. Objetivo: Descrever o desenvolvimento motor e os fatores contextuais de crianças nascidas com GTQ acompanhadas no Ambulatório de Seguimento da UTI Neonatal cirúrgica do IFF/Fiocruz. Métodos: Estudo de coorte, descritivo e longitudinal, pertencente a uma coorte de acompanhamento de crianças com GTQ. Foram incluídas todas as crianças nascidas com GTQ e excluídas as com outras malformações congênitas, hemorragia intracraniana (grau 2, 3 ou 4), síndrome genética e infecção congênita confirmada. A amostra foi avaliada durante o período de internação hospitalar e após a alta hospitalar no período de 1, 3 e 6 meses, por escalas padronizadas. A Escala Motora Infantil de Alberta (AIMS) foi utilizada para avaliar o desenvolvimento motor amplo e o Affordances in the Home Environment for Motor Development (AHEMD) para avaliação dos fatores contextuais. A análise de dados foi realizada no programa EPIINFO™ versão:7.2.1.0. Resultados: Foram admitidos 38 lactentes no Follow-up de gastrosquise e destes, 26 foram incluídos no estudo. GTQ simples e fechamento abdominal sem sutura ocorreu em 88% dos casos, não houve diferença entre as abordagens cirúrgicas, e a mediana do tempo de internação foi de 32 dias (20-80 GTQ simples e fechamento abdominal sem sutura ocorreu em 88% dos casos, não houve diferença entre as abordagens cirúrgicas, e a mediana do tempo de internação foi de 32 dias (20-80). Durante a internação 15 (58%) das crianças possuíam alteração no desenvolvimento motor e aos 3 e 6 meses, 8 (31%) e 10 (39%) permaneciam com a alteração respectivamente. O ambiente domiciliar foi classificado como “menos que adequado ou moderadamente adequado” em 23 (89%) aos 3 meses e 21 (81%) aos seis meses. Conclusão: As crianças que nascem com GTQ apresentam alterações motoras já no período neonatal, que podem permanecer ao longo dos primeiros seis meses de vida. O atraso motor é considerado uma barreira na funcionalidade da criança, influenciando assim a sua atividade e participação. O ambiente da UTI neonatal e o domiciliar também foram classificados como barreiras para o desenvolvimento motor dessa população. A identificação dos riscos por meio de avaliações padronizadas ainda no período neonatal, e após a alta hospitalar, garantem a intervenção precoce, possibilita um ajuste nas condutas e orientações, além de reduzirem o impacto no decorrer do desenvolvimento.