Abstract in Portuguese | É necessário resgatar o aspecto humano da saúde. A pertinência da mensagem geral do 6º Congresso de Ciências Sociais e Humanas em Saúde, tema de nossa matéria de capa, evidencia-se tanto nos debates das diversas mesas do evento, quanto nos demais conteúdos desta edição. “Participamos de simpósios, congressos, mas outros atores, com outros interesses, é que têm o poder de definir a agenda da saúde”, resumiu a presidente do Conselho Nacional de Saúde, Maria do Socorro de Souza, no congresso. Nuances, que às vezes escapam à primeira vista, precisam ser levadas em conta, quando se trata de preservar direitos humanos e garantir o direito à saúde. Como decidir, por exemplo, que grupos populacionais serão testados em uma pesquisa sobre HIV/Aids sem se criar um dilema ético?, indagou em uma das mesas a pesquisadora Jeannie Shoveller, do Canadá. Da mesma forma um inesperado debate sobre fundamentalismo — à primeira vista estranho em um congresso de saúde, como apontou o presidente do evento Kenneth Camargo (IMS/Uerj) — mostrou quão danosos são os dogmatismos religiosos e o pensamento conservador crescente. O alerta para que se tragam as pessoas para o foco esteve presente também no lançamento, durante o congresso, da Comissão da Verdade da Reforma Sanitária, que pretende registrar e esclarecer a repressão política aos trabalhadores da saúde durante a ditadura militar. Dois outros eventos trazidos às páginas desta Radis também ecoam o clamor para que não se perca de vista a dimensão humana. O 3º Fórum Global sobre Recursos Humanos em Saúde, que reuniu representantes de 93 países, ajudou a lembrar que quem cuida e quem é cuidado precisa de atenção integral. “Não tem mínimo e não tem teto”, defendeu do alto de seus 91 anos a ministra da Saúde de El Salvador, uma das vozes a realçar a importância e as responsabilidades do Estado, em um evento pouco crítico ao aumento do protagonismo do setor privado na estrutura dos sistemas de saúde dos diversos países, na busca da cobertura universal. Já na 5ª Conferência Nacional das Cidades, a ênfase nas pessoas e no bem comum expressou-se no brado dos participantes por “reforma urbana já!” e na defesa do Sistema Nacional de Desenvolvimento Urbano (SDU), há muito criado, mas até hoje sem operar. Por meio do sistema, a cidade pode ser pensada de forma integral, com a garantia de participação e controle social. Moradia digna, mobilidade, saneamento, planejamento urbano são itens indispensáveis na definição das políticas públicas, em prol da qualidade de vida dos cidadãos. Deixa, ainda, os sujeitos desfocados a enigmática dívida pública brasileira, que representou 40% do gasto público federal de 2013, como mostra o gráfico que ilustra a reportagem sobre o tema. Os mais de R$ 7 bilhões consumidos pela dívida seriam recursos para a construção de unidades básicas de saúde, salas de aula, casas e hospitais. A formação da Auditoria Cidadã da Dívida Pública para investigar a natureza do endividamento mostra que a sociedade civil mantém-se mobilizada. Afinal, é preciso ajustar o foco. Boa leitura! | pt_BR |