Please use this identifier to cite or link to this item:
https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/20334
RADIS - NÚMERO 143 - AGOSTO
Fundação Oswaldo Cruz. Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca | Date Issued:
2014
Responsible institution
Abstract in Portuguese
A defesa do direito às manifestações nas ruas, usurpado dos brasileiros com agressões e prisões arbitrárias, como ocorreu durante a Copa do Mundo, traz à tona duas palavras constitutivas do campo da saúde, cuidado e direitos, que, nesta edição, perpassam reportagens sobre temas bem distintos.
Ambas estão presentes ao enfatizarmos na capa as negligenciadas leishmanioses, grupo de doenças de difícil diagnóstico, controle e tratamento, que causam de 20 mil a 30 mil mortes por ano em todo o mundo. Estão relacionadas à expansão urbana a áreas silvestres, bem como à pobreza, habitação precária e subnutrição, expressões da falta de cuidado e de desrespeito aos direitos, que a reportagem quer revelar, dando às leishmanioses – e, assim, àqueles que têm uma das formas da doença – o destaque merecido.
O manejo do ambiente por parte do homem está também na raiz do acelerado aquecimento global por que passa o planeta e que é tema de outra reportagem da revista. Nesse caso, para mostrar que o cuidado passa longe do repertório daqueles que, mais interessados em preservar um modelo de desenvolvimento predador, insistem em pôr em dúvida que as mudanças climáticas decorrem da ação do homem. Buscam para isso gerar suspeita sobre o conhecimento científico e atacar a credibilidade de pesquisadores como o climatologista José Marengo, do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC). Conforme apontam 97% dos 12 mil artigos produzidos sobre o tema nos últimos 20 anos, as mudanças climáticas têm origem humana. Descuidar é deixar ficar tarde demais para tomar atitudes que mitiguem suas consequências.
É de cuidado e direitos também que, afinal, trata a pesquisa Nascer no Brasil, realizada pela Ensp/Fiocruz, que apontou que apenas 5% das brasileiras puderam vivenciar seus partos sem alterações na fisiologia, isto é, sem intervenções tantas vezes desnecessárias, e que 52% dos nascimentos se dão por cesárea – contra os 15% recomendados pela Organização Mundial da Saúde. Os números mostram que as mulheres têm seu direito ao parto normal ceifado: na rede pública, 15% iniciam a gravidez desejando a cesárea e, ao final, 45% realizam o procedimento; na rede privada, o desejo pela cesárea é de 36%, índice que se eleva a assustadores 90% ao final da gestação.
Não por acaso, dois mestres da Saúde que já não estão entre nós ocupam páginas desta edição. Morto em 2000, David Capistrano Filho em seu pioneirismo e ousadia é homenageado na seção Sanitaristas Brasileiros.De Gilson Carvalho, que nos deixou em julho, Radis recolheu uma pequena mostra das frases contundentes que marcaram seu discurso em prol da sustentabilidade do SUS, uma delas apontando caminho certeiro rumo ao cuidado e aos direitos: “Jamais teremos recursos suficientes para a saúde humana se a barbárie das regras capitalistas de mercado, sem o freio da regulação, continuarem sendo aplicadas neste setor”.
Share