Empowerment ou medicalização? Reflexões sobre o uso da Internet para obtenção de informações em saúde

Abstract

Vivemos num mundo globalizado, altamente tecnológico, voltado para o consumo em todos os níveis. Nesse cenário, a informação e o conhecimento são instrumentos fundamentais. O grande desenvolvimento das tecnologias de comunicação e informação mediadas por computador oferece aos indivíduos e organizações a possibilidade de obter grandes quantidades de informação, de forma rápida, fácil e a qualquer hora. Contrariamente ao que seria esperado, o amplo acesso a informações científicas não trouxe mais confiança na ciência. Na modernidade tardia, reflexiva, há uma tendência ao questionamento das instituições tradicionais, expertises, sistemas de conhecimento acumulado, inclusive os relacionados à saúde e à ciência. É nesse contexto que as relações entre medicina, expertise profissional e expertise leiga se deparam. O surgimento da Internet subsidia e reforça esse processo e pode afetar questões relativas à saúde e à doença tanto no nível organizacional, quanto no individual. Esse estudo tem por objetivo analisar os reflexos que a obtenção pelos pacientes de informação sobre saúde através da Internet pode ter sobre a relação médico paciente e a vivência do adoecimento crônico. Ele é apresentado através de três artigos científicos. O primeiro traz uma revisão da literatura sobre o tema, com foco nos possíveis reflexos do aparecimento do paciente expert para a relação médico paciente. O segundo artigo discute a possibilidade de utilização da Internet como recurso em projetos voltados para a Promoção da Saúde em populações de baixa renda e em comunidades carentes no Brasil. O terceiro artigo apresenta os resultados da pesquisa qualitativa realizada com portadores de doenças crônicas. Alguns temas se destacaram nos depoimentos: busca de informação - conferir e complementar, critérios para busca e confiabilidade, comunidades virtuais e não virtuais, relação médico paciente, adoecimento crônico e medicalização. Ambivalência é o sentido dominante neste estudo. O acesso à informação sobre saúde pode ter reflexos tanto positivos quanto negativos para os indivíduos e, ao mesmo tempo, tem potencial para facilitar e dificultar a relação desses indivíduos com seu adoecimento, tratamentos e com seus médicos. Além disso, o mesmo processo que, em teoria, produz empowerment e autonomia, pode, na prática, ampliar a medicalização da sociedade.