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https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/33959
USO DE PSICOFÁRMACOS E A INCAPACIDADE FUNCIONAL ENTRE IDOSOS RESIDENTES EM COMUNIDADE
Falci, Denise Mourão | Data do documento:
2018
Autor(es)
Orientador
Membros da banca
Afiliação
Fundação Oswaldo Cruz. Instituto René Rachou. Belo Horizonte, MG, Brasil.
Resumo
O uso de psicofármacos tem sido apontado como um dos fatores de risco para o desenvolvimento da incapacidade funcional entre idosos, mas os resultados ainda são controversos. O objetivo deste trabalho foi investigar a associação entre o uso de psicofármacos e a incapacidade funcional entre idosos residentes em comunidade. Para esse
propósito, foram realizados dois estudos, um transversal e outro longitudinal, ambos baseados nos dados da coorte de idosos do Projeto Bambuí. O estudo transversal baseou-se nos dados coletados no ano de 2008, entre os idosos da coorte então sobreviventes, com mais de 70 anos
de idade. Nele, a regressão logística multinomial foi utilizada para avaliar a associação entre uso de psicofármacos e incapacidade funcional (para
atividades instrumentais de vida diária–AIVD e para atividades básicas de vida diária–ABVD), ajustado por variáveis sociodemográficas, de condições de saúde e uso de serviços de saúde. Já o segundo estudo
baseou-se nos dados coletados entre 1997 e 2001, entre os idosos com 60 ou mais anos na linha-base e que eram livres de incapacidade funcional. A associação entre uso de psicofármacos e o desenvolvimento de incapacidade funcional (para AIVD ou para ABVD)
foi testada por meio do modelo de riscos proporcionais de Cox estendido. As análises foram estratificadas por sexo e ajustadas por características sociodemográficas, comportamento em saúde e condições de saúde. Na vertente transversal, 27,9% dos idosos relataram alguma incapacidade funcional (18,0% exclusivamente para AIVD e 9,9% para AIVD/ABVD). O uso de antipsicóticos foi associado à incapacidade para
AIVD (OR=2,79; IC95%: 1,07-7,27) e o de benzodiazepínicos à incapacidade para ABVD (OR=2,38; IC95%: 1,27-4,89). Na vertente
longitudinal, as taxas de densidade de incidência (p/ 1.000 pessoas-ano) para a incapacidade nas AIVD e ABVD, foram respectivamente de 84,0 e 56,9, sendo que as mulheres tornaram-se incapazes mais precocemente que os homens. No estrato feminino, o uso de dois ou mais psicofármacos foi associado tanto à incapacidade para AIVD (HR=1,58; IC95%: 1,17-2,13)
quanto para ABVD (HR=1,43; IC95%: 1,05-1,94), o uso de benzodiazepínicos foi associado à incapacidade para AIVD (HR=1,32; IC95%: 1,07-1,62) e de antidepressivos a ambas, para AIVD (HR= 1,51; IC95%: 1,16-1,98) e ABVD (HR= 1,44; IC95%: 1,10-1,90). No estrato
masculino, por sua vez, o uso de antipsicóticos foi associado à incapacidade para AIVD (HR=3,14; IC95%: 1,49-6,59). Nossos resultados evidenciaram a relação entre o uso de psicofármacos e o desenvolvimento da incapacidade funcional, apontando a necessidade de
uma prescrição cautelosa desses medicamentos para idosos e do monitoramento contínuo do seu uso por essa população, para que, nessa utilização, os riscos de ocorrência de eventos adversos não venham superar os benefícios terapêuticos esperados.
Resumo em Inglês
The use of psychotropic drugs has been pointed out as one of the risk factors to the development of functional disability among the elderly but the results are still controversial. The aim of this study was to investigate the association between the use of psychotropic drugs
and functional disability among community-dwelling elderly. For this purpose, two studies were carried out. The first study was cross-sectiona
l and the second was a longitudinal study, both of them based on data from the Bambui Cohort Study of Aging. The cross-sectional study was based on the data collected in the year 2008, among the survivors aged over 70
years old. In this study, multinomial logistic regression was used to evaluate the association between the use of psychotropic drugs and functional disability (for instrumental activities of daily living - IADL and for basic activities of daily living - BADL), adjusted for sociodemographic variables, health conditions and health services use. The second study, however, was based on the data collected between 1997 and 2011, among the elderly with 60 or more years old at the baseline and who were free of functional disability. The association between psychotropic drugs use and the development of functional disability (for IADL or for IADL/BADL) was tested using the extended Cox regression model. The analyzes were stratified by gender and adjusted for sociodemographic characteristics, health behavior and health conditions. In the cross-sectional study, 27.9% of the elderly reported some functional disability (18.0% for IADL and 9.9% for IADL/BADL). The use of antipsychotics was
associated to IADL disability (OR = 2.79, 95%IC: 1.07-7.27) and benzodiazepine was associated to BADL disability (OR=2.38, 95%IC: 1.27-4.89). In the longitudinal section, incidence rates (per 1,000 person-years) for disability in IADL and BADL were respectively 84.0 and 56.9, and women became disabled earlier than men. In the female stratum, the use of
two or more psychotropic drugs was associated with both disability, for IADL (HR = 1.58, 95% CI: 1.17-2.13) and BADL (HR = 1.43, 95% CI: 1.05-1.94), benzodiazepines use was associated to IADL disability (HR = 1.32, 95% CI: 1.07-1.62), antidepressants use to IADL (HR = 1.51 ; 95% CI: 1.16-1.98) and BADL disability (HR = 1.44, 95% CI: 1.10-1.90). In the male stratum, the antipsychotics use was associated to IADL disability (HR = 3.14, 95% CI: 1.49-6.59). Our results evidenced the relationship between the use of psychotropic drugs and the development of functional disability, pointing out the need for a cautious prescription of these drugs for the elderly and the continuous monitoring of their use by this population and then the risks of adverse events do not overcome the expected therapeutic benefits.
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