O desprezo no olhar: vivências de violências da população em situação de rua de Campos dos Goytacazes/RJ

Abstract

A interface população em situação de rua e violência ganha destaque na literatura no final da década de 2000, período em que esse grupo começa a ganhar visibilidade na esfera política, inclusive no âmbito da saúde. Os objetivos do presente trabalho são: analisar as vivências de violência da população em situação de rua de Campos dos Goytacazes; analisar a produção acadêmica sobre população em situação de rua e violências no campo da saúde; e lançar um olhar sob as formas, os sentidos e o lugar do fenômeno violência no contexto da rua a partir da perspectiva dessa população. O marco teórico adotado foi constituído pelos conceitos de População em Situação de Rua, Exclusão Social, Vulnerabilidade Social, Vulneração e Violências. Para analisar como a literatura do campo da saúde tem abordado a interface população em situação de rua e violências, foram selecionados documentos datados de 2001 a 2013 publicados em periódicos indexados da área da Saúde Pública. Para analisar as vivências de violência da população em situação de rua foram construídas histórias de vida de cinco homens e cinco mulheres de Campos dos Goytacazes. Optou-se pela análise de conteúdo em sua modalidade temática para análise dos dados. Os resultados desta pesquisa foram apresentados em dois textos científicos. Os achados do primeiro capítulo permitiram constatar que no âmbito da saúde há uma parca produção acerca da interface violências e população em situação de rua, o que dificulta a análise sobre a vulnerabilidade desse grupo, principalmente no que tange as violências e violações a que estão submetidos. O segundo artigo possibilitou a análise mais clara da vulnerabilidade social e da vulneração da população em situação de rua a partir de histórias de vida dos moradores de rua. A maioria dos sujeitos identificou o rompimento de vínculos familiares como principal causa de sua atual situação de rua, alguns deles apontando a violência doméstica como responsável por tais rompimentos. Em relação às violências percebidas e vivenciadas, o grupo identificou muitas formas de violências interpessoais e coletivas. Apenas a violência autoinfligida não apareceu nos discursos. O grupo investigado apresentou uma visão ampliada sobre as vivências de violência, percebendo o preconceito e o estigma como base de muitas outras formas de violência. Esse achado coaduna com o que está posto na literatura de que a violência sofrida pela população em situação de rua está profundamente marcada pela questão da estigmatização.