Mãe, proteja seu bebê da AIDS: concepções de gênero e saúde em materiais educativos sobre prevenção das DST/AIDS

Abstract

Em 2016 a taxa de detecção (/1000.000 hab) de casos de AIDS em mulheres no Brasil foi de 11,6 (BRASIL, 2017). A partir do reconhecimento da importância de considerar os diferentes contextos de produção dos processos de saúde e doença, este trabalho focou em especial na forma como a construção social de gênero se expressa nos materiais educativos sobre prevenção das DST/AIDS destinados às mulheres. Analisar como as representações sociais de gênero e saúde aparecem nos materiais educativos sobre DST/AIDS direcionados às mulheres em geral e às gestantes e problematizar as abordagens da comunicação sobre a prevenção de DST/AIDS para as mulheres. A metodologia consistiu em uma análise documental de 55 materiais educativos impressos elaborados por instituições do governo, organizações da sociedade civil e uma instituição privada, pertencentes ao acervo do ICICT/Fiocruz. Os materiais foram selecionados a partir dos enunciados presentes nos títulos, textos e imagens, como por exemplo: o uso da palavra “mulher” no título do material, a imagem de uma mulher na primeira folha/capa e a direcionalidade expressa no texto ao público feminino. Desta forma, foram selecionados 55 materiais educativos destinados às mulheres em geral (que não se destinam a um grupo específico de mulheres) e às mulheres gestantes para análise neste trabalho. A análise mostrou que nos materiais para as mulheres em geral, o cuidado com a saúde é abordado além da prevenção das DST/AIDS, tratando dos direitos sexuais e reprodutivos, cidadania e direitos sociais. Os materiais destinados às gestantes, diferentemente, focalizam o cuidado materno-infantil pautado na ideia de prevenção da transmissão vertical das DST/AIDS, referida como um dever da mãe no cuidado com a saúde do bebê. Essa atribuição da mulher no cuidado com a saúde do bebê traduz expectativas e estereótipos de gênero a partir dos processos reprodutivos femininos. Identificou-se a incorporação da perspectiva de saúde sexual e reprodutiva em alguns materiais destinados às mulheres em geral. Conclui-se que a análise de materiais educativos sobre DST/AIDS provida de um olhar crítico sobre as desigualdades de gênero pode contribuir para a elaboração de políticas públicas de saúde que considerem os contextos de produção das desigualdades sociais, como é o caso das desigualdades de gênero, como um fator importante no enfrentamento da epidemia do HIV/AIDS.