Representações sociais e institucionais sobre a pobreza e a miséria no Brasil

Abstract

Este estudo é parte de uma pesquisa de doutorado que visa lançar reflexões sobre a relação da dimensão simbólica da miséria com as desigualdades sociais em saúde. Discussões teóricas e políticas sociais na área têm feito parte do cotidiano de diferentes países. Aqui, buscamos compreender parte dessas vozes e discursos sobre a temática, especificamente na área institucional (Estado) brasileira. Buscamos verificar quem são as fontes e vozes privilegiadas implicadas na prática discursiva sobre a miséria e a pobreza na área institucional (Estado) brasileira e como se constituem os seus interesses em relação às desigualdades sociais em saúde. Realizamos a análise qualitativa de textos institucionais, buscando identificar discursos concorrentes, colaborativos e naturalizados (ou não) sobre a temática. Os documentos utilizados foram: 1 - Projeto Fome Zero - documento síntese. 2 - Fome Zero: Uma História Brasileira. 3 - Plano Brasil Sem Miséria. A metodologia de análise adotada foi a dos discursos sociais, com enfoque na ideia de contexto (Pinto, 1999) e na qual o discurso é visto ao mesmo tempo como processo de comunicação e prática social. Acreditamos que, a partir dela, é possível evidenciar a naturalização e a consolidação das práticas de comunicação sobre a miséria e a desarticulação dos sentidos propostos. Apesar da Saúde entrelaçar todos os documentos analisados em sua perspectiva ampliada, poucas são as construções textuais sobre a relação da miséria com as desigualdades sociais em saúde e com o ambiente em saúde (território). Com relação às nomeações comuns aos documentos, verificamos a naturalização de correlações entre a miséria/pobreza com os termos fome, alimentação e nutrição. Como a nomeação faz com que as ações existam, de fato, os documentos concretizam, institucionalmente, a fome como causa e consequência da pobreza e miséria no Brasil para a área institucional. Para tanto, conta ainda com a invocação de outros sujeitos/instituições, como a Igreja, Escola, entre outros. É inegável a existência de diferentes discursos sobre a pobreza no Brasil. Por meio da análise dos discursos, buscamos instituições presentes em documentos institucionais sobre o assunto - como Igreja e Escola -; e correlações naturalizadas ou não sobre a questão, como pobreza-fome e pobreza-doença. Tais nomeações nos apontam modos específicos de produção de sentidos e ação social sobre o tema, aqui muito presente em sua correlação com a fome.