Práticas promotoras de saúde do Consultório na Rua na cidade do Rio de Janeiro: as dimensões do acesso e da intersetorialidade

Abstract

O Consultório na Rua é um dispositivo da atenção primária à Saúde no Brasil, que opera na perspectiva da Promoção da Saúde, para ampliar o acesso e o cuidado da população em situação de rua. Promover a saúde da PSR pressupõe um conjunto de estratégias de aproximação do contexto de vida desse grupo vulnerável na produção do cuidado, o que certamente demanda um trabalho muito específico. O objetivo do artigo é analisar as práticas desenvolvidas pelas equipes de Consultório na Rua na cidade do Rio de Janeiro, nas dimensões do acesso e da intersetorialidade. Trata-se de uma abordagem qualitativa, com estudo de caso do universo de sete equipes de Consultório na Rua na cidade do RJ, onde foram entrevistados 34 profissionais de diferentes categorias e 14 usuários, além da observação participante do cotidiano do trabalho no período de 2016-2017, com análise do material empírico. As análises aqui apresentadas são um recorte de uma pesquisa avaliativa sobre a efetividade das práticas de promoção da saúde das eCR (ENGSTROM et al., 2017). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da ENSP/Fiocruz em 2015, sob parecer CAAE nº 45742215.6.0000.5240. Os resultados demonstram que as equipes atuam com uma compreensão ampliada do território das ruas, incorporando suas vulnerabilidades e complexidades para a produção do cuidado. A prioridade de atuação das eCR e o planejamento das ações nos territórios se voltam para os usuários em situação de maior vulnerabilidade, e para os locais com maior concentração de pessoas e de problemas de saúde, promovendo a equidade, em consonância com as diretrizes da Promoção da Saúde. Promovem acesso a saúde e a outros direitos sociais, organizam seu trabalho de forma flexível, centrada nas necessidades dos usuários e são potentes articuladores de redes ao atuarem por meio de ações intra e intersetoriais. Concluiu-se que as práticas de cuidado dessas equipes dão visibilidade a esse grupo vulnerável, no sentido de reconhecer o direito à cidade, à saúde e aos demais direitos de cidadania. “O CR tem uma importância política, assim, de dar visibilidade a essas pessoas que muitas vezes são invisíveis” (Profissional do CR). O CR mostrou ser um dispositivo importante da APS para ampliar o acesso e promover equidade da PSR.