Um país sem vacinas: sem imunidade, com impunidade

Abstract

No Brasil, em particular, a história das políticas e estratégias de controle da pandemia de Covid-19 é profundamente marcada por negacionismos, omissões, impunidades. Sem contar com um ministro do campo da saúde, o país, com um dos mais robustos e importantes programas de imunização do mundo, amargura uma vacinação lenta, quase estática, enquanto o número de mortes, depois de um ano de pandemia, chega a recordes dos quais ninguém pode se orgulhar. A falsa oposição entre economia e saúde, a insistência no que se chama de “tratamento precoce”, baseado em medicamentos já refutados por inúmeras pesquisas científicas (CORRÊA; VILARINHO; BARROSO, 2020), a localização xenofóbica da responsabilidade pela pandemia (“o vírus chinês”) (SACRAMENTO; MONARI; CHEN, 2020), a suspeição descabida em relação à eficácia de vacinas (“a vacina chinesa”) (SACRAMENTO, 2020), a recusa em promover medidas sanitárias básicas (isolamento social, testagem em massa, quarentena e lockdown) (CAPONI, 2020), a crença de que se trata apenas de “uma gripezinha”, a falta de oxigênio hospitalar, as mortes por asfixia, o número ínfimo de doses de vacina no Brasil, que, nesse ritmo, nas projeções mais otimistas, concluiria a vacinação em 2025, tudo isso faz com que, para nós, brasileiros, a dimensão catastrófica da Covid-19 ainda tenha gravidade, profundidade e alcance desconhecidos.