Avaliação do trabalho na atenção primária à saúde do município do Rio de Janeiro: uma abordagem em saúde do trabalhador

Abstract

No Brasil, a atenção à saúde da população é um direito de cidadania e dever do Estado conquistados historicamente. Estão garantidos na Constituição Federal de 1988 e nos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Inserida no SUS, a Atenção Primária à Saúde (APS), por meio dos preceitos da Estratégia de Saúde da Família (ESF), tem se mostrado como proposição estratégica nos sistemas de saúde em âmbito mundial. Ao longo da história do SUS, a APS apresenta transformações, avanços e desafios na prestação do cuidado integral e qualificado aos usuários dos serviços de saúde. Frente a um cenário de inovações nas práticas de trabalho, modos de avaliações e gestão do trabalho, foi proposto como objeto de estudo a avaliação do trabalho na APS do município do Rio de Janeiro, a partir de uma abordagem em saúde do trabalhador. Para atingir o objetivo pretendido, foi realizado um estudo qualitativo. Tendo como campo empírico o SUS, estiveram em análise as atividades de trabalho desenvolvidas por 62 trabalhadores da saúde inseridos nas equipes de Saúde da Família (SF) de três unidades de saúde, das quais duas eram Clínicas da Família (CF) e um Centro Municipal de Saúde (CMS), localizados na área programática 2.1. No curso dessa investigação foram utilizados métodos e técnicas para aproximação e diálogo com os protagonistas da atividade nas unidades de saúde. Os Encontros sobre o Trabalho foram o dispositivo técnico empregado nesta pesquisa. Para análise e interpretação dos dados provenientes dos Encontros sobre o Trabalho e do QSATS, buscou-se o ponto de vista da atividade e o método de interpretação dos sentidos. Os resultados do estudo demonstraram que na ESF, os trabalhadores atuam no campo do trabalho vivo, uma vez que possuem relação direta com os usuários. Essa dimensão relacional é um decisivo aspecto da atividade das equipes de Saúde da Família e seus atos no trabalho refletem a distância entre o trabalho prescrito e o real e elucidam que toda atividade é sempre atravessada pelos debates de normas ou ainda pela negociação dos usos de si.