Avaliação ecotoxicológica de sistema unitário e combinado de um pesticida neonicotinoide (acetamiprida) e de uma cianobactéria produtora de saxitoxinas (Raphidiopsis raciborskii) em cladóceros

Abstract

A agricultura é uma das principais fontes de degradação dos recursos hídricos devido a aplicação e transporte de compostos químicos como fertilizantes e pesticidas. Além de promoverem o enriquecimento nutricional e a contaminação química da água, pesticidas como neonicotinoides vêm sendo cada vez mais detectados em ambientes aquáticos, que sofrem, ainda com a intensificação na ocorrência de florações de cianobactérias. Considerando a complexidade das interações entre tais materiais na biosfera, o presente trabalho teve como objetivo determinar os efeitos de um pesticida neonicotinóide e uma cianobactéria filamentosa produtora de saxitoxina, de forma unitária e combinada, sobre três espécies de cladóceros, sendo duas espécies isoladas de corpos hídricos tropicais (Daphnia laevis e Moina micrura) e uma de região temperada (D. similis). Os três clones foram submetidos a exposições individuais e de mistura em diferentes proporções da cepa de Raphdiopsis raciborskii LETC-CY-05 e de acetamiprida. Os ensaios tiveram duração de 96 horas \2013 toxicidade aguda \2013 e de 15 dias \2013 toxicidade crônica \2013 e foram observados efeitos sobre a sobrevivência, crescimento somático, reprodução e crescimento populacional. O clone de D. similis foi ainda submetido a ensaios comportamentais com 24 horas de exposição. D. similis foi a espécie mais sensível a todas as exposições agudas individuais (CL50 = 284 \03BCg L-1 e 449 \03BCg L-1 para a cianobactéria e o pesticida respectivamente), e se mostrou mais sensível à mistura em função da presença da cianobactéria, além de exibir aumento nos parâmetros de comportamento em função da exposição à mistura. Já D. laevis \2013 pouco afetada nos ensaios agudos com LETC-CY-05 (CL50 = 3270 \03BCg L-1) e acetamiprida (CL50 = 2620 \03BCg L-1) \2013 apresentou efeitos adversos à mistura conforme o tempo de exposição, sendo verificado antagonismo em até 96 horas e de sinergismo a potencialização nas exposições crônicas (CL50 = 8340 \03BCg L-1). Da mesma forma, Moina micrura foi resistente nos ensaios agudos individuais, porém a mistura se mostrou mais tóxica (CL50 = 10100 \03BCg L-1), enquanto, em ensaios crônicos foi observados tamponamento do efeito dos agentes. Com isso foram observados diferentes padrões de resposta em função do clone e proporção dos agentes e, ainda, uma forte relação entre o tempo de exposição e o grau de efeito observado, reforçando a necessidade de avaliação de diferentes endpoints fisiológicos para avaliação de efeitos combinados.