Competência em informação de alunos de pós-graduação em saúde pública

Abstract

Este trabalho foi realizado por se considerar que a Competência em Informação (CI) não é um fim em si mesmo, e sim um meio para que pós-graduandos possam ampliar seu acesso à informação; por suas implicações diretas e imediatas sobre a qualidade de monografias, dissertações e teses; e que de um modo geral os programas de pós-graduação brasileiros investem recursos na formação de alunos em CI. Uma revisão da literatura identificou 26 estudos sobre CI na área da saúde, no país e no exterior. A maioria empregou desenho seccional e questionário auto-preenchido. Foram identificadas inúmeras denominações para CI. Uma constatação da atualidade do tema e da sua importância na área da saúde foi a inclusão do descritor Information Literacy no MeSH (Medical Subject Headings), vocabulário controlado da Biblioteca Médica Americana. Um inquérito brasileiro com médicos residentes deu origem ao instrumento utilizado em dois estudos seccionais em CI de pós-graduandos de Saúde Pública (SP), envolvendo 88 mestrandos e doutorandos ingressantes em 2009 e 2010 na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz e 86 mestrandos ingressantes em 2010 no Institut de Santé Publique d’Epidémiologie et de Développement, Université Bordeaux Segalen, França. No estudo brasileiro da ENSP, os resultados indicaram que egressos de graduações da área de concentração das Ciências da Saúde e Biológicas (CSB) demonstraram uma CI superior aos da área não CSB. O autodidatismo, isto é, a ausência de ensino formal, seja com bibliotecários ou professores-orientadores ou em disciplinas instituídas, prevaleceu no grupo não CSB, o que pode talvez explicar tal diferença. Estudo analítico naquela coorte brasileira e que se voltou especificamente para os usuários do Portal da CAPES apontou que, dentre esses, prevaleceram aqueles que tiveram aprendizado formal e leitores de artigos em inglês. Não se identificaram, entretanto, diferenças para sexo, idade ou nível acadêmico (mestrandos versus doutorandos). Na coorte francesa de Bordeaux, analisaram-se possíveis diferenças em CI nos 55 franceses versus 31 estrangeiros de 18 nacionalidades. Os estrangeiros se mostraram menos experientes em buscas com recursos avançados e mais propensos a pagar para ter acesso aos documentos de texto integral. Em comum entre os estudos brasileiro e francês observou-se uma baixa CI, apontando-se para a importância de se avaliar e investir na melhoria da CI ao nível da pós-graduação de SP. Finalmente, estudo experimental em pós-graduandos brasileiros de SP que contou com 31 participantes ilustrou que o treinamento de 7 horas aumentou a pontuação na avaliação pós-treinamento do grupo experimental. Na metodologia desse estudo original destacam-se o delineamento com “cegamento” na alocação dos participantes e na análise dos dados, e a aplicação de um instrumento de avaliação previamente validado. Adicionalmente, há que se ressaltar a elaboração de um curso em CI voltado para pós-graduandos de SP. Concluindo, o presente trabalho fez um retrato da CI de pós-graduandos de SP de background diverso, oriundos de diferentes regiões e escolas de graduação do país e do exterior. Essa diversidade antecipa desafios ao se elaborar propostas didático-pedagógicas flexíveis e que os preparem minimamente e, ao mesmo tempo de forma inclusiva, no uso das ferramentas do método científico. Acreditamos que ele possa contribuir para sensibilizar instituições brasileiras sobre o papel da CI nos processos de aprendizagem e produção de conhecimento em SP. Como estratégia de curto prazo, sugerimos parcerias entre bibliotecários e docentes. Assim, iniciativas de treinamento tradicionalmente desenvolvidas de forma isolada por bibliotecários ou docentes poderiam envolver o par docente-bibliotecário e se realizar dentro da grade de disciplinas da graduação e pós-graduação. Sugerimos que os docentes, por sua proximidade com o alunado, sejam capacitados como líderes, replicadores do conhecimento. Há que se valorizar o papel do profissional da ciência da informação no âmbito das instituições de ensino e pesquisa; o docente como catalisador desta mudança.