O câncer na mídia brasileira: repercussões do projeto piloto Viva Mulher (1997-2002)

Abstract

Levantar, sistematizar e avaliar um conjunto de matérias jornalísticas sobre câncer de colo do útero entre os anos de 1997 e 2002. Averiguar a que fatores as reportagens estão relacionadas: saúde pública ou saúde individual, e ainda se as reportagens publicadas ofereciam aos leitores explicações sobre fatores de risco e prevenção da doença. O período avaliado encontra-se delimitado pelo Programa Viva Mulher, que teve sua origem em um projeto piloto do INCA em 1997, sendo expandido para âmbito Nacional em 1998. As fontes de pesquisa foram os arquivos dos acervos jornalísticos da revista “Veja” no período de 1997 a 2002. Os termos de busca foram “cancro”, “câncer”, “colo”, “útero”, “cervical”, bem como combinação e derivações destes termos. Todas as reportagens sobre câncer de colo de útero, a partir da delimitação do período foram investigadas, com exceção daquelas que abordavam aspectos pessoais. Resultados: Ao especificar a combinar os termos relativos ao câncer de colo de útero a busca resultou em 13 referências em 9 edições. Nota-se que as matérias acabam por se referir ao câncer de colo de útero ora como problema individual que demanda prevenção ou tratamento no nível individual, e ora como problema de saúde pública, demando soluções no nível coletivo e institucional. Em termos de saúde individual percebe-se que o discurso é imbuído de uma matriz de culpabilização do indivíduo, da mulher. Em termos de saúde pública, por outro lado, destaca-se a ação dos movimentos sociais, em especial dos movimentos ligados as lutas feministas, para construção de um sistema de saúde mais justo e que atenda as demandas das mulheres. Nesse sentido, o Programa de Assistência Integral à Saúde da Mulher e a campanha de combate ao câncer de colo de útero são exemplos. No entanto, destaca-se também na abordagem ligada à saúde pública, a dificuldade (financeira e institucional) de levar a cabo tais ações. Conclusão: Mesmo com a disparidade dos fatores aos quais as reportagens parecem estar ligadas (saúde coletiva ou individual), das informações que culpabilizam o indivíduo e dos ataques ao sistema de saúde, ou do caráter comercial do jornalismo, a mídia jornalística pode ser relevante tanto para indivíduos quanto para movimentos sociais, seja na divulgação de informação especializada ou das fontes oficiais, levando ao embate, à discussão e a busca pelo sistema de saúde exigindo uma resposta deste, mesmo que não seja pelos motivos corretos.