“Pois é no corpo que escrever me dói agora”: a relação entre a Aids e a deterioração física durante os primeiros anos da epidemia

Abstract

Em junho de 1981, o periódico norte-americano Morbidity and Mortality Weekly Report (MMWR), boletim do Center of Disease Control (CDC), noticiou a identificação de uma pneumonia normalmente diagnosticada em imunodeprimidos em cinco jovens pacientes cujo traço em comum era a homossexualidade. A matéria constitui o primeiro registro oficial da doença que depois passou a ser chamada Aids, sigla originária da língua inglesa para Síndrome da Imunodeficiência Humana. Pouco depois, a nova enfermidade alastrou-se de forma epidêmica por vários países, gerando medo e perplexidade (NASCIMENTO, 2005: 81). Destaca-se aqui um dos aspectos que julgamos de maior relevância nesse arsenal, a relação do doente com o seu corpo, visto que a década inicial da epidemia associou os pacientes soropositivos à imagem de um corpo que definha, o que, no caso do Brasil, se tornou representativo principalmente pela figura do cantor e compositor Cazuza.