RADIS: Comunicação e Saúde, número 240, setembro

Abstract

Nesta edição, Radis traz uma cobertura detalhada do 8º Congresso Brasileiro de Saúde Mental, realizado pelos repórteres Adriano De Lavor e Bruno Dominguez. Com o tema central "Democracia, antropofagias e potências da luta antimanicomial", o evento contou com a participação de profissionais da área da saúde mental de diversas especialidades, além de pacientes. Marcado por manifestações artísticas e uma mobilização significativa em defesa da Reforma Psiquiátrica, o congresso reafirmou a necessidade de construir uma política inclusiva de saúde, protegendo a vida e combatendo a violação dos direitos das pessoas com transtornos mentais. Historicamente, a saúde mental tem sido utilizada como um lucrativo mercado para a indústria farmacêutica e instituições privadas, como as comunidades terapêuticas (CTs), muitas das quais possuem caráter religioso. Essas instituições vêm recebendo crescentes investimentos, em detrimento dos serviços públicos, que são negligenciados pelo governo federal, apesar dos graves impactos psicossociais deixados pela pandemia de covid-19. Desde 2017, os avanços obtidos com a Reforma Psiquiátrica têm sido alvo de críticas de grupos contrários à consolidação das demandas dos movimentos antimanicomiais e democráticos. Esses movimentos priorizam o cuidado em meio livre de isolamento, mantendo os laços sociofamiliares e evitando a institucionalização do "eu". Eles utilizam elementos de inclusão e participação comunitária, como a arte, respeitando integralmente os direitos das pessoas em sofrimento psíquico. Paralelamente à Conferência, foi realizada uma exposição da obra de Arthur Bispo do Rosário, um artista que usou a arte para superar 50 anos de confinamento em uma cela. Considerado por alguns como um gênio e por outros como louco, Bispo do Rosário expôs a segregação, a higiene social dos manicômios e o pensamento eugênico. Sua arte, reconhecida nacional e internacionalmente, representa as tradições locais e suas vivências. Em uma instigante entrevista sobre "sofrimento como parte da vida", a psicanalista e filósofa Viviane Mosé defendeu a inclusão do delírio, do erro e da fantasia como componentes de um novo modelo de saúde, destacando as potencialidades das vivências da diversidade. Outro tema abordado foi a monkeypox, cuja recomendação do diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) para que gays, bissexuais e trabalhadoras do sexo reduzissem o número de contatos sexuais causou surpresa. Tal recomendação, além de estigmatizar esses grupos, pode confundir a população ao sugerir falsamente que pessoas fora desses universos estariam protegidas contra a infecção. A edição também traz um texto da engenheira agrônoma quilombola Franciléia Paula, intitulado "Imposição da fome é racismo alimentar", no qual ela aborda a fome que voltou a assolar o Brasil, afetando mais intensamente a população negra. Recentemente, um candidato à Presidência da República afirmou em horário eleitoral que não havia fome no Brasil, evidenciando uma visão enviesada da realidade. A esperança é que governantes futuros tenham uma compreensão mínima do que ocorre nas casas e nas ruas do país, pois a fome e a desigualdade são problemas que exigem atenção urgente e medidas efetivas para serem combatidos.