Criptococose em pacientes com HIV

Abstract

A criptococose é uma infecção grave que acomete principalmente indivíduos com HIV/Aids, predominando o quadro de meningite criptocócica e tendo o óbito como desfecho frequente. A infecção ocorre quando há exposição desses pacientes ao ambiente contaminado com propágulos infectantes do fungo. O presente trabalho teve como objetivo caracterizar os agentes fúngicos da criptococose em pacientes com HIV/Aids atendidos em uma Unidade de Referência no Amazonas no período de 2017 a 2019 e investigar o ambiente domiciliar como fonte de exposição para a infecção/reinfecção de Cryptococcus. As caracteristicas clínico-epidemiológicas foram analisadas através de revisão de prontuário. Foi realizada coleta ambiental de solo, excreta de pombos, poeira domiciliar e ar no domicílio dos pacientes com HIV/Aids e poeira domiciliar em dois domilios vizinhos para cada paciente. Os isolados clínicos e ambientais foram submetidos a análise micro e macromorfológica, Polimorfismo de comprimento de fragmento de restrição (PCR-RFLP), Multi-locus sequence typing (MLST) e E-test. Foram analisadas as características clínico-epidemiológicas de 55 pacientes e caracterizados 75 isolados clínicos. No grupo de pacientes 98,2% (n = 54/55) apresentaram a neucriptococose, resultando em 38,1% (n = 21/55) óbitos, dos quais 21,8% (n = 12/55) tiveram óbito precoce, com menos de um mês após serem diagnosticados com criptococose. C. neoformans VNI (n = 68/75), foi o principal responsável pelos casos de criptococose, seguido de C. gattii VGII (n = 3/75), C. gattii VGI (n = 3/75) e C. neoformans VNB (n = 1/75). Infecção mista foi observada em dois pacientes, um por C. neoformans VNI e VNB e outro por C. neoformans VNI e C. gattii VGI. C. neoformans VNI foi detectado em três (n= 3/51) domicílios, sendo um de um paciente (n= 1/17) e dois domicílios vizinhos (n= 2/34). Trinta isolados de C. neoformans, correspondentes a 24 pacientes e os três isolados ambientais foram alisados por MLST e E-test. Foram identificados os subtipos moleculares (STs) 93 86,6% (n=26/30), ST5 6,6% (n=2/30), ST32 3,3% (n=1/30) e C. neoformans VNB com ST 232 3,3% (n=1/30). Os isolados ambientais foram identificados como C. neoformans VNI com ST93 (n= 3/3). 96,6% (n= 29/30) isolados se mostraram sensíveis a Anfotericina B, mas houve variação da Concentração Inibitória Mínima (CIM). 60% (n=18/30) apresentaram CIM acima dos ECVs propostos para um ou mais antifúngicos. Todos os isolados ambientais foram sensíveis aos antifúngicos testados. C. gattii VGI foi observado pela primeira vez no estado do Amazonas, assim como C. neoformans VNB. O MLST mostrou que há uma importante relação de C. neoformans VNI com ST93 com indivíduos com HIV/Aids, inclusive nos isolados ambientais analisados, mas esse ST não é exclusivo em associação a HIV/Aids na região. A Anfotericina B se mostrou o melhor medicamento de escolha para o tratamento da maioria dos pacientes. Além disso, a mortalidade observada reflete a importância do diagnóstico precoce, e evidencia a criptococose como doença definidora de AIDS e importante problema de saúde pública na região. O ambiente domiciliar mostrou-se uma fonte potencial de infecção/reinfecção por C. neoformans VNI com ST93