Susceptibilidade de mosquitos Aedes aegypti à infecção por linhagens asiática e africana de ZIKV

Abstract

O vírus Zika (ZIKV), causador da febre Zika, é transmitido ao humano através da picada de mosquitos do gênero Aedes, como o Aedes aegypti. O vírus foi identificado pela primeira vez na África, e detectado em seguida fora do continente africano. Desde então, o ZIKV tem sido classificado em duas linhagens: a africana e a asiática. A linhagem asiática se espalhou pelo mundo e é responsável por todos os surtos de febre Zika ocorridos até atualmente. A linhagem africana nunca havia sido identificada fora do continente africano até 2019, quando isolados do vírus foram detectados no Brasil. Como o resultado da interação entre o ZIKV de linhagem africana e o Ae. aegypti brasileiro é desconhecido, são necessários estudos para avaliar os riscos relativos ao provável encontro desse par vírus-vetor. O presente estudo investigou a susceptibilidade de mosquitos Ae. aegypti brasileiros à infecção por uma linhagem africana de ZIKV geneticamente similar à recentemente encontrada no Brasil, utilizando uma linhagem asiática circulante como parâmetro comparativo. Em uma análise considerando três diferentes estágios de infecção (inicial, intermediário e tardio), avaliamos as taxas de infecção, de infecção disseminada, de transmissão; e as eficiências da disseminação e da transmissão viral. Além disso, o número de cópias virais foi analisado para auxiliar no entendimento do fluxo do ZIKV e sua dinâmica de evasão das barreiras antivirais do mosquito. Os Ae. aegypti brasileiros foram susceptíveis tanto para a linhagem de ZIKV asiática, quanto para a africana. As taxas de infecção foram similares entre as linhagens e a disseminação viral foi maior para o ZIKV asiático. No entanto, a eficiência da transmissão foi maior para o ZIKV asiático no estágio intermediário, porém maior para o ZIKV africano no estágio tardio, demonstrando que em termos epidemiológicos, ambas as linhagens podem possuir uma implicação similar na manutenção do vírus em circulação e na probabilidade de causar um surto epidêmico. Para ambas as linhagens, o vírus foi capaz de permanecer no mosquito até o estágio tardio de infecção, indicando que o vetor pode permanecer infectado durante toda a sua vida. Portanto, concluímos que os Ae. aegypti brasileiros são altamente susceptíveis à infecção pelos ZIKV de linhagem africana, sendo capazes de permitir a invasão, disseminação e transmissão do vírus do vetor para o humano. A vigilância relativa à circulação desse vírus deve ser reforçada com o objetivo de preparar o sistema público de saúde e prevenir possíveis surtos de febre Zika no Brasil.