O que os olhos não veem, a cor sente: sobre a (in)visibilidade científica da questão racial e a democratização do ensino superior na odontologia

Abstract

Estudo sobre as relações étnico-raciais no campo da Odontologia realizado a partir de duas técnicas de investigação complementares: revisão de escopo sobre a categorização do perfil dos estudantes de odontologia nas universidades públicas brasileiras em vinte anos de publicações científicas a partir da implementação das políticas afirmativas; e estudo de caso realizado por meio de entrevistas semiestruturadas com discentes do último ano de uma instituição pública de ensino superior do Rio de Janeiro. A revisão de escopo nas bases de dados PubMed, Web of Science, Embase, Cochrane Library e LILACS encontrou 40 publicações, e foram identificadas as variáveis sociodemográficas mais pesquisadas na categorização dos alunos, com apenas quatro publicações utilizando o quesito raça/cor e apenas quatro trazendo a proporção de estudantes cotistas. A entrevista semiestruturada identificou os desafios enfrentados pelos estudantes durante o período de graduação, as estratégias de enfrentamento e as expectativas com a futura profissão. Conclui-se que o debate étnico-racial ainda é pouco presente na formação de recursos humanos em Odontologia, tanto na produção textual quanto na formação experienciada pelos estudantes, e que a questão de gênero necessita de maior aprofundamento dentro do ambiente universitário.