Hipertensão arterial em grupos sócio ocupacionais de Volta Redonda-RJ

Abstract

Em 1979, segundo semestre, realizou-se um inquérito epidemiológico sobre hipertensão arterial (HA) em Volta Redonda-RJ, com amostra representativa para a população urbana de 20 a 74 anos de idade. A escolha daquele município deu-se pelas suas particulares características econômicas e demográficas de cidade industrial com grande poder de atração da mão de obra migrante. O inquérito foi realizado sob os auspícios da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-FIOCRUZ), conveniada com o Hospital da Siderúrgica Nacional (HSN), e utilizou-se a mesma metodologia de uma pesquisa sobre hipertensão arterial no Rio Grande do Sul, no ano anterior. As médias tensionais e a prevalência da HA são primeiro analisadas em relação a toda a população amostral (N=635), e depois comparativamente entre agrupamentos definidos como SÓCIO-OCUPACIONAIS, grupos estes que têm a conformação de estratos sociais. Um estrato superior, com os profissionais técnico-científico e administrativos (TCA, n=64), ou sejam, de nível universitário, gerenciais ou intelectuais de modo geral, do setor terciário da economia ou diretamente ligados à produção. Um estrato intermediário, com os pequenos burocratas e comerciários (PBC, n=109), do setor terciário. Dois estratos inferiores: um do setor secundário, com os trabalhadores da indústria de transformação e construção civil (IT, n=177), a grande maioria operários empregados pela Companhia Siderúrgica Nacional (CSN); outro do setor terciário, com as ocupações subalternas da prestação de serviços (PS, n=137). Por último o grupo das pessoas que nunca trabalharam (NT, n=148) ou foram economicamente ativas, que não é um estrato social, embora seus componentes tenham características ocupacionais em comum - a maioria é de "donas de casas". As médias para toda a população amostral foram da ordem de 70,6 e 122,4 mm Hg, para a diastólica e sistólica, respectivamente. A prevalência foi de 10,1% - pode-se esperar que pelo menos 1 em cada 10 adultos seja hipertenso. As curvas de distribuição destes parâmetros apresentam relação positiva com a idade, com abrandamento da ascendência nas faixas etárias mais velhas. Na última delas ocorre uma inversão das curvas quanto ao sexo: se até então os homens tinham níveis tensionais maiores, nesta faixa as mulheres se sobrepõem. Particular característica assume a curva da prevalência, com uma abrupta descontinuidade na meia idade, sugerindo gerações com experiências diversas com relação à elevação da sua pressão arterial. Quanto aos grupos de ocupações as médias e a prevalência distribuem-se com um gradiente inverso de classe social. O grupo PS, das ocupações subaltenas da prestação de serviços, tem prevalência 5,5 vezes superior à do grupo TCA, das ocupações gerenciais, intelectuais ou de nível universitário: 16,0 e 2,9%, respectivamente, de acordo com o critério da OMS para HA - sistólica ≥ 160 e/ou diastólica ≥ 95 mm Hg. A prevalência dos demais grupos: 6,2% (PBC), 9,4% (NT) e 11,1% (IT). São significativas as diferenças de PS com TCA e PBC (p < 0,01). Conclui-se que fatores de ordem social relacionados às condições de vida e trabalho das pessoas são fortemente determinantes na gênese da HA. Sugere-se a teoria do stress psico-social como modelo explicativo de uma intermediação dinâmica entre a bagagem genética e experiência de vida anterior de uma pessoa e aqueles fatores externos, ambientais, de ordem social, o processo insidiosamente levando à instalação da HA.