Perfil das Dermatofitoses na cidade de Manaus: etiologia e epidemiologia por estudo retrospectivo em 10 anos em um Centro de Saúde de Referência.

Abstract

As dermatofitoses são infecções cutâneas de origem fúngica, provocadas por fungos queratinolíticos dos gêneros Microsporum, Trichophyton e Epidermophyton. Elas frequentemente se manifestam em áreas urbanas de regiões tropicais, representando um desafio para a saúde pública. De acordo com dados epidemiológicos, as dermatofitoses ocupam a terceira posição entre as doenças cutâneas mais comuns em crianças com menos de 12 anos, enquanto na população adulta, ocupam a segunda posição. Mudanças consideráveis no espectro dos dermatófitos foram observadas no século passado. No entanto, até esta pesquisa, não havia registros atualizados sobre as dermatofitoses em Manaus, com apenas um estudo datado de 1961 a 1968. Com isso, o objetivo principal deste estudo foi determinar a frequência das dermatofitoses e seus agentes etiológicos durante o período de janeiro de 2009 a dezembro de 2019 em um laboratório de referência no município de Manaus. Para tanto, foram analisados retrospectivamente todos os laudos positivos para dermatofitoses durante este período. Para processamento e tratamento dos achados foi utilizado a linguagem de programação “R 3.3.0” e software "QGIS 3.28". Como resultados, foram contabilizados 1.042 casos confirmados de dermatofitoses em 967 indivíduos com média de 95 (±48,84) pacientes por ano. O perfil predominante dos indivíduos acometidos foi o sexo masculino (50,86%), com idade entre 31 e 59 anos (49,71%) com lesões principalmente em pele glabra e unhas das mãos e dos pés (46,07% e 32,82% respectivamente), apresentando as espécies T. rubrum (53,96%) e T. tonsurans (13,37%) como os agentes etiológicos mais frequentes. Identificou-se que 71 indivíduos apresentaram infecções em mais de um sítio anatômico sendo o sexo masculino mais susceptível à essas múltiplas infecções. As lesões no couro cabeludo predominaram em pacientes com menos de 12 anos (85,2%). Além disso, observou-se uma maior incidência de dermatofitoses nas unhas das mãos e dos pés, bem como no couro cabeludo, entre as mulheres (55,3% e 66,9% respectivamente), enquanto nos homens as áreas mais afetadas foram a pele glabra (58%) e a região crural (67,9%). Constatou-se que o T. rubrum foi o agente predominante nas lesões de pele glabra e ungueais (86,45%), enquanto o T. tonsurans demonstrou uma predileção pelo couro cabeludo (89,5%). Além disso, verificou-se que o T. tonsurans foi mais frequentemente associado a crianças com menos de 12 anos, enquanto o T. rubrum teve uma maior prevalência em adultos jovens e idosos. No que diz respeito à distribuição geográfica das dermatofitoses ao longo desta década, destacaram-se os bairros Alvorada e Cidade Nova que foram responsáveis por 28,86 % de todas as manifestações clínicas diagnosticadas nos bairros do Município. Tinea capitis (66,9%) e tinea unguium (55,3%) foram mais comuns em mulheres, enquanto tinea corporis (58%) e tinea cruris (67,9%) prevaleceram em homens. Apesar das limitações inerentes a estudos retrospectivos, os achados desta pesquisa contribuem para as ações contínuas da vigilância epidemiológica, bem como para a avaliação do impacto de intervenções de saúde pública ao longo do tempo.