Síndrome Aerotóxica: um problema de saúde pública: o estado da arte e das práticas no Brasil

Abstract

A síndrome aerotóxica (SAT) é composta por um conjunto de sinais e sintomas, agudos e/ou crônicos, decorrentes da exposição aos Fume Events (FE) - vapores tóxicos oriundos do processo de pressurização da cabine do avião. Essas ocorrências surgem, em certas condições, e podem provocar diversos danos à saúde de passageiros e trabalhadores, transportados em aeronaves do serviço de transporte aéreo público nacional e internacional. Em diversos países, esse problema é discutido, inclusive trabalhos foram publicados e conferências realizadas sobre a temática, mas no Brasil as pesquisas são escassas e o assunto parece não possuir o destaque merecido. Em decorrência do fato, a presente pesquisa avaliou o estado da arte e das práticas em relação à SAT na saúde dos aeronautas do serviço do transporte aéreo público regular no Brasil. Foram mapeadas as produções acadêmicas publicadas no Brasil e no exterior, relacionadas ao fenômeno, bem como os possíveis casos de FE e SAT, ocorridos no serviço de transporte aéreo público regular, em bancos de dados públicos nacionais e internacionais. A pesquisa foi complementada com um questionário fechado anônimo, autoaplicável, objetivando identificar a percepção dos aeronautas do serviço de transporte aéreo público regular quanto às ocorrências de SAT, o atendimento da saúde do trabalhador no SUS e os riscos no seu ambiente de trabalho. Todos os dados coletados foram utilizados para a confecção de uma cartilha sobre os casos de FE e SAT nos sistemas de informação. As informações coletadas nos bancos de dados públicos nacionais comprovaram que o Brasil não está livre de FE, pois, entre 2012 e 2022, diversos voos sofreram com fumaça a bordo, odores e outros fenômenos. Além disso, foi identificado que 9 (nove) pilotos apresentaram incapacitações em pleno voo com 4 (quatro) desmaios, entre 2018 e 2022 Observando os registros de saúde percebeu-se um número acentuado de lacunas no preenchimento do registro de ocupação profissional nos casos de doenças relacionadas ao trabalho. Essa disparidade pode afetar o tipo de enquadramento em relação ao auxílio que será concedido ao profissional. Já, a avaliação dos questionários revelou que 72% dos respondentes têm, em média, 10 anos de atividade de voo e os eventuais efeitos do FE e SAT não são discutidos no briefing antes do voo. A respeito da estrutura da saúde do trabalhador no SUS, quase 100% desconhecem suas estruturas oficiais. Com base nesses dados, percebe-se a ausência de discussões e o consequente desconhecimento dos tripulantes a respeito dos FE e SAT. Daí, um dos produtos da pesquisa foi a confecção de uma cartilha de orientação, buscando conscientizar e incentivar os trabalhadores a reconhecerem e notificarem eventuais casos de FE e SAT. Desse modo, os próprios trabalhadores contribuirão para a promoção e proteção dos tripulantes e passageiros, buscando conscientizar, fomentar e alicerçar políticas em defesa da saúde dos trabalhadores sujeitos aos fenômenos descritos. Por fim, a pesquisa demonstrou que a SAT se configura como um relevante problema de saúde pública ainda não equacionado no Brasil.