Dinâmica da infecção pelos vírus Zika e Mayaro em mosquitos Culex quinquefasciatus e Aedes aegypti em modelo animal

Abstract

Dentre os arbovírus que circulam no Brasil, destacam-se os vírus Dengue (DENV), Zika (ZIKV) e Chikungunya (CHIKV). Além desses, o vírus Mayaro (MAYV), detectado em ambientes silvestres das regiões norte e centro-oeste do país desde os anos 80, vem apresentando um recente aumento de notificações em humanos. DENV, ZIKV e CHIKV tem como principal vetor o mosquito Aedes aegypti, presente em todo território brasileiro. Para ZIKV, outras espécies podem ser potenciais vetores, como Culex quinquefasciatus. MAYV é transmitido em ambientes silvestres por Haemagogus spp., mas para se conhecer o risco de sua urbanização faz-se necessária a avaliação da competência vetorial de mosquitos urbanos. O efeito da co-circulação de tantos arbovírus em termos de patogênese, evolução desses vírus, e interação com os hospedeiros ainda é pouco conhecido. Desta forma, o presente estudo teve como objetivo avaliar a dinâmica de transmissão de MAYV e ZIKV em infecção única, ou dupla, em camundongos IFNAR/BL6, utilizando Ae. aegypti e Cx quinquefasciatus como vetores. Os mosquitos alimentados com os vírus de forma artificial foram posteriormente usados como via de infecção em camundongos. Adicionalmente, investigamos a dinâmica de evolução das variantes virais (quasispecies) presentes nas amostras de cultura de células, mosquitos e camundongos. As investigações dos vírus em amostras de mosquitos e camundongos foram feitas por RT-qPCR, ensaio de placa e sequenciamento de nova geração. Ae. aegypti foi competente para transmitir MAYV, ZIKV e MAYV+ZIKV e todos os camundongos apresentaram sinais de viremia. Cx. quinquefasciatus foi competente para transmitir ZIKV, com 100% de transmissão, mas não houve sinais de viremia nos camundongos infectados. MAYV foi detectado em glândulas salivares desta espécie, mas, os camundongos não apresentaram sinais de viremia e apenas uma amostra de cérebro foi positiva. Esses achados sugerem que o Cx. quinquefasciatus não seria um vetor eficiente para MAYV. A avaliação do segundo grupo de mosquitos, que se alimentaram nos camundongos doentes, mostrou taxas de infecção em Ae. aegypti para MAYV (50%), ZIKV (61%) e dupla infecção (91-95%). Para Cx. quinquefasciatus, a taxa de infecção observada para ZIKV foi de 24%. A análise de quasispecies revelou variantes intra hospedeiro em todas as amostras. Foram identificados no total 126 sítios polimórficos nos genomas de MAYV analisados. O tecido com menor diversidade genética viral foi fígado de camundongos, e a glândula salivar de mosquitos revelou uma maior variação de sítios polimórficos. Uma melhor compreensão do padrão de evolução das variantes virais pode revelar questões epidemiológicas importantes envolvidas com a patogênese e perfil de transmissão dos vírus, e pode trazer ainda uma relevante contribuição para o desenvolvimento de vacinas ou antivirais. A padronização e utilização de um modelo animal murino de transmissão de arbovírus é de extrema importância, uma vez que não existe uniformização na literatura na metodologia de estudos de competência vetorial. No presente estudo foi evidenciada a competência da espécie Ae. aegypti para MAYV e para co-infecção e co-transmissão de MAYV e ZIKV de maneira inédita em camundongos imunodeprimidos.