Onde está a comunidade na formação do Médico de Família e Comunidade?

Abstract

A orientação comunitária é um elemento pouco trabalhado na formação de médicos de Família e Comunidade. Partindo-se da hipótese inicial de que os médicos de Família e Comunidade não estavam sendo formados em sua residência médica de maneira a valorizar as atividades de Abordagem Comunitária, quer por falhas na formação, quer por limitações do campo de prática, esta pesquisa objetivou conhecer o processo de ensino-aprendizagem da Abordagem Comunitária em uma unidade de residência em Medicina de Família e Comunidade localizada no Rio de Janeiro. Este é um estudo qualitativo, de intenção cartográfica, instrumentalizado por observações participantes e entrevistas. A cartografia foi escolhida na intenção de que essa experiência possa se coletivizar a partir de sua descrição e discussão. Seus resultados revelam que, apesar de não atribuírem uma definição clara para o que seriam as ações de Abordagem Comunitária, os residentes valorizam essa experiência e conseguem identificar suas potencialidades. São reconhecidos também os principais desafios para sua realização, incluindo a formação biomédica, o contato com realidades diferentes e o cenário de prática dos residentes, sendo o trabalho em favela considerado como um cenário com características e dificuldades específicas. A pesquisa também destaca a importância dos preceptores no desenvolvimento das atividades de ensino-aprendizagem de orientação comunitária, convidando-os a uma maior proximidade com seus residentes nessas atividades, facilitando seus processos, sendo exemplo, sendo ponte e promovendo comunidades de aprendizado saudáveis em suas unidades de saúde Ao final do estudo, entende-se que a valorização dessa prática existe nos residentes e nos Médicos de Família e Comunidade, porém as barreiras que encontram ao longo do caminho e a falta de incentivo parecem capazes de distanciá-los das atividades de Abordagem Comunitária, sendo os preceptores uma figura com potencial de diminuir tal afastamento. Vale ressaltar que esta pesquisa não apresenta uma resposta definitiva, mas oferece pistas para enfrentar o problema.