“Fala com a gerente!”: um estudo sobre a função gerencial das Clínicas da Família do município do Rio de Janeiro

Abstract

O município do Rio de Janeiro, a partir de 2009, com a expansão da Estratégia de Saúde Família, dentre outras mudanças, instituiu o cargo de gerente de Clínicas da Família. Desde então estes profissionais assumiram a responsabilidade da condução das Unidades Básicas de Saúde em sua totalidade, seguindo orientações da Secretaria Municipal de Saúde e das Organizações Sociais contratantes. O objetivo desta pesquisa foi analisar a prática dos gerentes a partir da visão destes profissionais na gestão das Clínicas da Família do município do Rio de Janeiro, tendo como pressuposto que estes gerentes atuam mais em uma lógica gestora e não gerencial. A metodologia envolveu, além da análise documental e utilização do diário de campo, aplicação de questionário semiaberto, respondidos em plataforma virtual por 121 gerentes, o que equivale a mais da metade dos profissionais desta categoria no município. Deste grupo, foi traçado um perfil sociodemográfico majoritariamente feminino, jovem, com idade entre 31 a 40 anos, predominantemente da cor branca, sendo a maioria casadas, heterossexuais e que se tornaram mães antes de assumirem o cargo. Quanto à formação, apesar de recentes mudanças de perfil de ingresso dos novos gerentes, há predomínio da categoria de enfermagem. Quase a totalidade dos gerentes possui pós-graduação, sendo a grande maioria especializada em Saúde da Família. Além desta especialização, mais da metade também possui formação em gestão. São profissionais com experiência prévia em Atenção Primária, porém com média de dois anos na função de gerente e grande parte há menos de um ano em sua atual Clínica da Família. O questionário cumpriu uma função complementar as entrevistas para traçar previamente o perfil destes profissionais e posteriormente aprofundar em suas vivências. Após análise dos questionários, foram realizadas dez entrevistas semiestruturadas com gerentes de nove das dez Áreas de Planejamento da cidade. Foi notório que a quantidade excessiva de atividades tem impactado na prática destes profissionais, trazendo de forma bem concreta e expressiva os sentimentos de sobrecarga, solidão e sofrimento. Dentre as expectativas dos gerentes, há uma indicação para revisão do valor do salário, enquanto forma de valorização e reconhecimento do esforço e dedicação destes profissionais. Por fim, defende-se a necessidade da construção de uma agenda formativa, afetuosa e de apoio para estes gerentes, que desempenham, sem dúvidas, uma função primordial e essencial na Atenção Primária Carioca.