Experiências da preceptoria no SUS em tempos de COVID-19

Abstract

As Residências Multiprofissionais em Saúde (RMS) representam uma estratégia para repensar o processo de formação de profissionais de saúde por meio da integração de práticas e saberes das profissões envolvidas. Tem como objetivo primordial a formação em serviço que ocorre a partir da interação com os preceptores e tutores de cada área. A preceptoria proporciona um processo de ensino-aprendizagem baseado numa perspectiva teórica e prática sobre o contexto e a realidade onde se realiza. A iniciativa das RMS tem como pressuposto uma formação pautada na educação permanente em saúde (EPS) que visa substituir a lógica biologicista por um modo de pensar e conhecer capaz de apreender os objetos em seu contexto e sua complexidade. A EPS é norteadora para as práticas das RMS, pois reconhece o cotidiano como lugar de invenções, acolhimento de desafios e práticas cooperativas, colaborativas e integradas. As RMS, uma vez inseridas no SUS, e diante do cenário pandêmico vivido pelo país desde 2020, também assumem papel no enfrentamento na linha de frente nos hospitais. Assim, esse trabalho teve como objetivo analisar a percepção sobre a atividade de preceptoria quanto aos desafios e perspectivas no período pandêmico. Buscou-se identificar as mudanças na atividade de preceptor, assim como os desafios e as estratégias adotadas para o enfrentamento durante o período. O estudo teve caráter exploratório qualitativo e foi realizado com profissionais da saúde que exercem funções de preceptoria e com a coordenadora do programa de residência multiprofissional de um hospital universitário no Rio de Janeiro, Brasil A técnica utilizada foi a entrevista semiestruturada analisada a partir do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). Houve um total de nove entrevistados. A partir das entrevistas foram identificados dez DSCs. Os preceptores narraram a atividade de preceptoria durante o período pandêmico como um momento em que ocorreu reflexão quanto as práticas e adaptações necessárias para manutenção da residência. O período foi descrito como caótico, de guerra, em que as dificuldades em lidar com os medos e incertezas se sobressaltaram. Durante a pandemia foi necessário criar estratégias imediatas, como escalas entre a equipe, reuniões remotas, diminuição da carga horária teórica e prática, e suspensão das atividades multiprofissionais. Ainda que com ressalvas e sendo organizado de forma particular em cada área, foram estratégias que possibilitaram manter a continuidade das atividades e o vínculo dos residentes com o serviço. Embora seja possível observar práticas exitosas, é importante destacar que não houve relatos de estratégias institucionais. Assim, percebe-se o distanciamento com as práticas da EPS, uma vez que as ações foram feitas de forma restrita e centrada em cada área. Uma reflexão acerca do processo vivenciado em 2020/2021, a partir da ótica dos preceptores, possibilita a divulgação das práticas daqueles que vivenciaram o campo nesse período. Resgatar esses relatos pode contribuir para a organização das residências e estruturar caminhos para o enfrentamento de novas emergências sanitárias.