Investigação da influência dos fenômenos inflamatórios da resposta imune in situ na apresentação clínica da esporotricose humana

Abstract

Um aumento do número de casos de esporotricose (SP) tem sido relatado em várias regiões do planeta, inclusive no Brasil, especialmente no estado do Rio de Janeiro, área considerada hiperendêmica para esta micose. Neste contexto, o aumento de casos trouxe desafios para o diagnóstico pela semelhança com outras infecções de pele, como a leishmaniose, e também a oportunidade de produzir conhecimento e aprofundar os estudos em casos humanos. Diante disto, o preciso diagnóstico, bem como o entendimento dos fenômenos imunológicos envolvidos nas diferentes apresentações clínicas da esporotricose, fixa (F) e linfocutânea (LC), são de grande interesse. Nosso estudo foi dividido em duas partes: na primeira etapa avaliamos o perfil clínico e a resposta imune in situ nos pacientes de SP, formas F e LC. Foram coletados dados clínicos e laboratoriais pela revisão dos prontuários e avaliada a resposta imune in situ pela técnica de imunohistoquimica para diversos marcadores celulares e funcionais de 31 pacientes com diagnóstico confirmado de SP. Dezenove pacientes apresentaram forma LC e 12 forma F; houve prevalência do sexo feminino em ambas as formas; e a idade média foi de 35 anos. Houve maior número de linfócitos T CD4+, linfócitos T CD8+, neutrófilos e macrófagos na forma LC, e maior predomínio de mediadores de regulação, FoxP3, CD25, IL-33 e ST2-L na forma F, e de NOS2 na forma LC. A forma LC tem uma apresentação clínica mais exuberante, maior número de lesões, com acometimento linfático, enquanto a forma F apresenta lesão única, limites mais bem definidos, sem acometimento linfático. Na segunda etapa fizemos estudo comparativo de pacientes com leishmaniose cutânea (n=48) e SP (n=48). Os resultados mostraram algumas diferenças e algumas semelhanças no perfil inflamatório das duas doenças. As semelhanças eram evidentes entre as formas linfocutanea de SP e esporotricoide de leishmaniose cutânea, que compartilham apresentações clínicas similares, sugerindo que além das particularidades de cada infecção, uma resposta coordenada do sistema imune da pele pode facilitar a organização da resposta inflamatória nesse sítio. É possível que as diferenças dos padrões de resposta imune in situ expliquem as variadas apresentações clínicas causadas pelo mesmo patógeno, uma vez que um padrão predominante regulatório sugere um melhor prognóstico. Os dados clínicos e imunológicos avaliados neste estudo, podem ampliar o conhecimento sobre a esporotricose, e auxiliar na maior precisão do diagnóstico diferencial, sempre que necessário. Novos estudos devem ser realizados a fim de se compreender melhor o funcionamento do sistema imune nas doenças granulomatosas da pele como a esporotricose e a leishmaniose, e suas repercussões clínicas