A caixa de Pandora: psicanálise e o feminino no cinema expressionista alemão (1919-1930)

Abstract

O presente trabalho se propõe a analisar as relações entre cinema e psicanálise a partir de suas implicações na construção das representações do feminino ao longo do século XX. O período democrático da República de Weimar (1919-1933) representou para a Alemanha e, sobretudo, para Berlim, um período de intensas contradições. As diversas modificações sociais transformaram a Berlim do período entreguerras em uma Cosmópolis de efervescência cultural, possibilitando o surgimento de uma nova modalidade artística preocupada em expressar, através das artes, seus estados internos. Assim, neste cenário de intensa modificação política, social e cultural, o movimento expressionista se torna uma fonte de questionamento dos costumes. O cinema, então, passa a configurar um importante veículo de construção de uma identidade nacional, fortemente abalada após a derrota na Primeira Guerra Mundial. Não obstante, a mulher passa a ocupar um lugar de destaque entre essas contradições. Paralelamente ao movimento crescente de participação política e liberdade sexual acentuaram-se as tensões entre masculino e feminino e, acerca dos papéis de gênero destinados à mulher pela sociedade. No intuito de compreender e ilustrar as representações femininas do período, foram selecionados os filmes O Anjo Azul, do diretor J. V. Sternberg (1930) O Diário de uma Garota Perdida (1929) e A Caixa de Pandora (1929) do diretor G.W. Pabst, refletindo as contradições que a figura feminina simbolizou no período. Portanto, a partir da análise destes filmes selecionados, este trabalho procura compreender as implicações da cultura psicanalítica nos filmes da época e seu papel na construção da imagem da mulher moderna. Em suma, a interseção entre psicanálise, mulher e cinema proporciona uma perspectiva enriquecedora para compreender as representações culturais, sociais e psicológicas que moldam e são moldadas por essas esferas interligadas.