Disparidades persistentes no acesso à terapia antirretroviral baseada em dolutegravir na América Latina e Caribe: uma análise de sexo

Abstract

Introdução: O alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS) em maio de 2018 sobre potencial teratogenicidade associada ao uso de dolutegravir (DTG) no período periconcepcional pode ter acarretado inequidades relacionadas ao sexo no acesso à terapia antirretroviral (TARV) contendo essa medicação. O objetivo desse trabalho foi avaliar o início de terapia antirretroviral contendo dolutegravir TARV-DTG por mulheres vivendo com HIV/aids (MVHIV) comparadas a homens vivendo com HIV (HVHIV) na América Latina e no Caribe e o impacto potencial na supressão da carga viral do HIV (CV-HIV). Métodos: Foi avaliado o início de TARV-DTG entre pessoas vivendo com HIV (PVHIV) virgens de tratamento e experimentadas, ≥16 anos após a disponibilidade ampla de DTG no Brasil (Fevereiro/2017), no Chile (Agosto/2019), Haiti (Novembro/2018) e Honduras (Dezembro/2018). O tempo foi dividido em: pré- (antes de maio/2018), durante (maio/2018-julho/2019) e após o alerta (após julho/2019) da OMS. Examinamos as interações de sexo, idade e era do calendário com modelos de regressão de Poisson modificados multivariáveis e modelos de risco proporcional de Cox para os resultados do início de TARV-DTG entre as PVHIV virgens de tratamento e as experimentadas, e HIV RNA <50 cópias/mL no primeiro ano de tratamento entre as PVHIV virgens de tratamento, ajustando para país e tuberculose. Resultados: Entre 4622 PVHIV virgens de TARV, 3853 (83%) iniciaram TARV-DTG. As MVHIV virgens de TARV com idade entre 16 e 49 anos tiveram menor probabilidade de iniciar TARV-DTG em comparação com HVHIV da mesma idade, tanto no período pré/durante o alerta (PRRa: 0,75 [intervalo de confiança de 95% (IC95%): 0,71-0,80]) quanto no período pós-alerta (PRRa: 0,97 [IC95%: 0,95-1,00]). Entre as 16154 PVHIV experimentadas, 9236 (57%) iniciaram TARV-DTG Antes/durante o alerta da OMS, as MVHIV experimentadas entre 16 e 49 anos tiveram menor probabilidade de iniciar TARV-DTG que HVHIV da mesma idade (HRa:0,69 [IC95%:0,66-0,73]). As MVHIV experimentadas entre 16 e 49 anos continuaram a ter menor probabilidade de iniciar TARV-DTG do que HVHIV da mesma idade no período pós-alerta (HRa:0,79 [IC95%:0,70-0,90]). Essa diferença entre os sexos não foi observada entre MVHIV e HVHIV experimentados mais velhos antes/durante o alerta da OMS (HRa:1,06 [IC95%:0,99-1,14]). Em comparação com o início de TARV sem DTG, o início do uso TARV-DTG foi associado a uma maior probabilidade de supressão do RNA do HIV (PRRa=1,10 [IC95%:1,04-1,16]). No período pós-alerta, as MVHIV entre 16 e 49 anos tiveram uma probabilidade HIV RNA <50 cópias/mL semelhante à dos HVHIV da mesma idade (RRa:1,03 [IC95%:0,96 -1,10]), e isso não mudou após ajuste para o uso de DTG (RRa:1,03 [IC95%: 0,97-1,11]). Conclusões: Apesar das diretrizes atualizadas e das evidências científicas acumuladas que recomendam a TARV-DTG para todas as PVHIV, as MVHIV mais jovens continuam a vivenciar disparidades no acesso a TARV-DTG na região