Rede Cegonha: aspectos que influenciam o nascimento no Brasil

Abstract

A Rede Cegonha busca organizar a Rede de Atenção à Saúde Materna e Infantil, garantindo acesso, acolhimento e redução da mortalidade materna e infantil. Se diferencia das políticas anteriormente criadas, pois concretiza a formação de uma rede de serviços desde a atenção básica até às maternidades, assegurando atendimento hospitalar de maior complexidade se necessário. Esta tese tem como objetivo analisar os fatores associados à qualidade da assistência ao pré-natal, às boas práticas no parto, à violência obstétrica e à satisfação com as condições de nascimento ofertadas as mulheres gestantes e puérperas no Brasil em 2013 e 2014. Realizou-se um estudo epidemiológico, transversal, de base populacional, com características exploratórias por meio de dados secundários dos bancos de dados produzidos pelo Núcleo de Pesquisa (NUPE), Ouvidoria-Geral do Sistema Único de Saúde (OUVSUS). Fizeram parte da pesquisa todas as mulheres que tiveram filhos nos hospitais públicos ou conveniados ao Sistema Único de Saúde em todo território brasileiro entre os anos de 2013 e 2014. O instrumento de pesquisa se constituiu em um questionário elaborado pela Área Técnica de Saúde da Mulher e OUVSUS, contemplando 48 perguntas sobre atenção à saúde da mulher no pré-natal, parto, pós-parto e saúde da criança e ainda 6 perguntas de perfil. Utilizou-se o método estatístico de Análise de Classes Latentes (ACL) para analisar estas variáveis. Foram utilizados modelos de regressão logística binária ou multinomial simples e múltipla. Verificou-se que possuir entre 10 e 19 anos e ser solteira ou viúva possui respectivamente 55% e 19% mais chances de receber poucas informações sobre os tipos e momentos do parto. Ser de cor preta apresentou menor chance para a baixa qualidade na consulta e solicitação de exames no prénatal (18%). As mulheres que possuem renda familiar entre 1 e 2 salários mínimos possuem 48% mais chances de ter uma baixa qualidade no repasse de informações dos diretos das gestantes, enquanto que as chances aumentam em 2,17 vezes para as mulheres que recebem bolsa família. Possuir plano de saúde apresenta menor chance para ocorrência da baixa qualidade no repasse de informações dos diretos das gestantes. As moradoras da região Nordeste apresentam 25% mais chances de terem uma execução intermediárias das boas práticas no trabalho de parto e parto. Ter entre 10 e 19 anos aumenta em 60% as chances de ter melhor execução das boas práticas no trabalho de parto e parto. Ao se analisar a escolaridade ter ensino superior incompleto / pós-graduação aumenta 3,32 vezes as chances de ter uma melhor execução das boas práticas no trabalho de parto e parto. Receber bolsa família aumenta em 18% as chances de ter uma execução intermediária das boas práticas. As moradoras da região Nordeste têm 54% a mais de chance se sofrerem violência. Ter entre 10 e 19 anos aumenta em 2,62 vezes as chances de sofrerem violência física e estrutural. Analisando-se o estado civil ser solteira/viúva apresente 14% maiores chances de sofrerem violência do tipo física e estrutural, já ser parda apresenta 25% maiores chances de sofrerem mais violência. Ter ensino superior incompleto/pós-graduação apresenta 26% mais chances das mulheres sofrerem violência física e estrutural. As chances de ser mais exposta a violência generalizada aumenta em 48% entre as mulheres que possuem renda menor que um salário mínimo. Não receber anestesia para alívio da dor aumenta em 87% as chances de ter maior exposição a violência, já ficar com a criança apenas 10 minutos e depois ser levada para os primeiros cuidados aumenta 2,10 vezes a chance de também sobre violência de todos os tipos. As mulheres residentes na região Norte possuem 2,06 vezes mais chances de terem uma insatisfação intermediária com o atendimento, já em relação a faixa etária, possuir entre 10 e 19 anos aumenta as chances em 20,20 vezes de possuir satisfação apenas com o atendimento ao parto e cuidados com o bebê. Se tratando de raça/cor, as mulheres pretas e amarelas/indígenas possuíram um maior grau de satisfação com o atendimento prestado, sendo respectivamente 29% e 27%. Observa-se aumento nas chances de ter satisfação intermediária nas mulheres que não foram informadas sobre a Lei do Acompanhante (5,59 vezes), os riscos relacionados aos tipos de parto (7,17 vezes) e sobre a necessidade de autorização para realização de procedimentos (7,75 vezes). As chances de se ter satisfação apenas com o atendimento no parto e assistência ao bebê é maior nas mulheres que não tiveram direito a acompanhante de sua escolha (2,26 vezes) e que ficaram com seus filhos por 10 minutos e depois os levaram para prestar a assistência aos recém-nascidos (2,40 vezes). Diante dessas constatações pode-se concluir que há uma diversidade de falhas no atendimento ao binômio mãe-bebê, desde o atendimento pré-natal da gestante bem como no momento do parto e pós-parto em âmbitos distintos, desde a assistência profissional, até a infraestrutura que receberá aquela gestante para a ocorrência do parto. O fortalecimento e estruturação adequada da Rede Cegonha é fundamental para modificar estas realidades, e assim trazer mudanças aos aspectos que influenciam o nascimento no Brasil.