Agronegócio e contaminação ambiental por agrotóxicos no território indígena do Xingu

Abstract

Brasil é um dos maiores produtores de commodities agrícolas do mundo, e esse modelo de produção traz grandes transformações ambientais, com danos duradouros aos territórios, envolvendo uso de agrotóxicos em múltiplos processos de exposições. Devido às suas características e mecanismos de ação tóxicos, o uso de agrotóxicos visa a eliminação de organismos vivos, repercutindo negativamente na saúde humana e no ambiente. Neste contexto, povos indígenas relatam os impactos relacionados à exposição aos agrotóxicos em seus territórios, circundados por monoculturas agrícolas. Em 2018 o povo Khisêtjê, da terra indígena (TI) Wawi, da bacia hidrográfica do Xingu, fez um deslocamento forçado, na tentativa de fugir das exposições por agrotóxicos, pulverizados nas fazendas nos limites TI Wawi. Esta pesquisa teve como objetivo avaliar a situação ambiental, com verificação da presença e níveis de poluição por agrotóxicos, em águas e alimentos na TI Wawi, Mato Grosso e descrever possíveis desfechos na saúde humana. Por meio da pesquisa participante, foi realizada uma avaliação da exposição combinada por agrotóxicos nas águas e em alimentos tradicionais. Foram caracterizadas as rotas de exposição, quantificação de parâmetros de agrotóxicos nas águas e em alimentos (proteína animal), o perfil de uso da região do estudo e sistematização das observações do povo Khisêtjê (Suya). Os resultados mostram que a bacia hidrográfica está continuamente sendo contaminada por agrotóxicos. Há presença de 28 tipos de agrotóxicos diferentes na TI Wawi, sendo um agrotóxico proibido e três não registrado no país Os relatos do povo Khisêtjê sobre os efeitos na saúde e no ambiente contextualizaram a contaminação por agrotóxicos com desfechos vinculados aos agrotóxicos detectados. Os ingredientes ativos foram encontrados nas águas superficial, subterrânea, de chuva e nos alimentos, caracterizando múltiplas exposições simultâneas e permanentes neste território. As concentrações dos ingredientes ativos estão em conformidade com legislações nacionais de águas, mas quando comparada com a legislação da União Europeia, importador de grãos brasileiros, forneceu um cenário de perigo para saúde humana e comunidades aquáticas através da exposição impositiva e permanente, que é uma característica da atividade agrícola de monocultivos, pois é um processo estruturante histórico vinculado a produção pelo agronegócio.